A eleição dos dados e o que ainda falta
*MARCELO SOARES
Até recentemente, os números eleitorais disponíveis antes do voto eram só os das votações anteriores. Na última década, passamos a ter muito mais informação para poder decidir melhor.
Quando trabalhei na cobertura da eleição de 2000, aqui na Folha, a polêmica era o uso da internet na campanha. Um promotor me explicou assim a raiz do "perigo" da web: "na internet, trabalha-se com um pessoal que forma opinião". Hoje, a questão é quanto subsídio os sites dos candidatos dão para o eleitor formar sua opinião.
Naquele tempo, processos contra políticos eram coligidos por adversários como munição. Patrimônio? Tema de fofoca. Desde 2006, o TSE publica as declarações de bens de todos os candidatos. Isso ajuda a calcular quanto enriqueceram no poder. A divulgação dos processos por ONGs e imprensa levou à criação da lei da Ficha Limpa.
Em 2000, a lista dos doadores dos candidatos era um favor que a Justiça Eleitoral prestava aos jornalistas em São Paulo após o pleito. Neste ano, já em agosto, foram reveladas as primeiras prestações de contas prévias identificando os doadores. Agradeça à lei de acesso a informações públicas, em vigor desde maio. Em outros países, a prestação de contas começa na pré-campanha e continua em tempo real até o resultado. Aqui, a pré-campanha é uma zona com mais de 50 tons de cinza.
A eleição está mais transparente do que há 12 anos. O desafio é compreender esses dados cada vez mais complexos –e que ainda devem crescer.
Em 2000, e em ao menos três eleições seguintes, dizia-se ser "a eleição da internet". Agora, talvez seja a primeira de várias "eleições dos dados". Olhando o que ganhamos na década, como não ser otimista?