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Brasil está estagnado no combate à corrupção, diz diretor de Transparência Internacional

04 de dezembro de 2014 - 10:34

O diretor para as Américas, Alejandro Salas, da ONG Transparência Internacional, que acabou de lançar a última edição do Índice de Percepção da Corrupção 2014 (IPC), ponderou que, apesar da melhora do posicionamento no Brasil, a pequena diferença de pontuação em relação aos outros ano mostra que o país está estagnado no combate à corrupção.

O ranking é formulado por meio da percepção de corrupção no setor público. Salas falou com o Contas Abertas sobre corrupção no governo brasileiro, sobre o escândalo da Petrobras e também da responsabilidade da sociedade civil.

Confira entrevista abaixo!

Contas Abertas – O Brasil está na 69ª posição do ranking deste ano. Em 2012, assumiu a mesma posição e em 2013 caiu uma, para 72ª. Isso significa que o país melhorou e está menos corrupto, ou apenas voltou ao passado?

Alejandro Salas – Eu acredito que as mudanças ocorridas nos últimos três anos foram muito pequenas. O Brasil está estagnado e isso é uma má notícia, já que é uma das maiores economias do mundo, com muitas possibilidades de crescimento e de se tornar líder da América Latina. O país não pode apresentar uma posição tão baixa. O Brasil deveria fazer esforços mais importantes para melhorar a transparência do governo.

CA – Quais esforços o senhor destacaria?

AS – É importante, por exemplo, que haja uma reforma política, que altere a forma de financiamento das campanhas eleitorais. É necessário ainda que os brasileiros voltem a confiar nos seus governantes, recuperem a importância da política e façam uma grande mudança na maneira que se gasta dinheiro no país. Temos visto as denúncias da Petrobras, das obras dos estádios da Copa do Mundo e com muita frequência vemos denúncias de corrupção entre o setor privado e o público.

CA – A sétima etapa da operação Lava Jato revelou empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras. A culpa do setor privado é a mesma do setor público?

AS – É importante dizer que o problema da corrupção não é só do governo e dos políticos. É também das empresas e dos cidadãos. Muitas vezes também nos consideramos vítimas: o governo é corrupto e eu não posso fazer nada. Isso não é certo. Os cidadãos devem parar de pagar suborno, propina, assim como os empresários. A América Latina, no geral, está acostumada a esperar que o governo solucione todos os problemas e, com isso, a sociedade não toma as responsabilidades para si, mas também somos responsáveis. Não podemos fazer parte da corrupção, ao votar em políticos corruptos, como é o caso Maluf no Brasil. Outro ponto de responsabilidade dos cidadãos é a participação. Devemos atuar, não podemos ficar calados, ou dizer que isso é um problema cultural, que o povo brasileiro é assim e pronto. Isto não é certo. Nós podemos mudar.

CA – A melhora na posição do país coincidiu com inúmeras denúncias, como os esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro revelados pela operação Lava Jato envolvendo a Petrobras. Isto foi levado em conta na avaliação?

AS – As pesquisas que formularam este Índice colheram informações até agosto. O escândalo da Petrobras é muito novo, então não foram levados em conta neste ano, mas seguramente será no Índice de Percepção da Corrupção 2015. Mas outros escândalos, como de infraestrutura, dos estádios, de campanhas políticas foram levados em conta e são as razões pelo Brasil não ter tido melhora significativa.

CA – O que mais deixa o país estagnado?

AS – O país também tem coisas boas, que faz com que ele não piore, como a Lei de Acesso à Informação, um passo muito importante, a Ficha Limpa e agora também pune as empresas corruptas, não somente as pessoas. Esses fatos junto aos muitos escândalos negativos faz com que o Brasil não suba, nem desça, o que é ruim. Há outros países, como Haiti e Iraque, que possuem muitos problemas sociais e instituições fracas, por isso estão com nota baixa. Agora o Brasil não, o país tem recursos, empresários criativos e tradição democrática de eleições. Tinha que estar melhor.

CA – Países do Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) estão mal avaliados no IPC 2014, apesar de serem grandes economias. Por que o sucesso econômico não corresponde a um governo limpo e transparente? Quais são as semelhanças entre eles?

AS – A China foi um dos países que mais caiu no Índice deste ano, com quatro pontos a menos do que no ano passado. Lá não há liberdade de imprensa, a sociedade civil é controlada, o uso da internet é limitado. Assim, é muito difícil observar o governo, por isso a queda não é surpresa. No Brasil, é diferente. Há uma democracia que funciona, a imprensa e todos podem falar, como também podem fazer pressão para que haja mudança. A Rússia se parece mais com a China. Já a África do Sul se parece mais ao Brasil, onde se aplica um regime democrático. São países com muito dinheiro e possibilidade de grande crescimento no futuro, mas a maioria deles com governos muito controladores.

CA – Chile e Uruguai estão em posições muito melhores que a do Brasil e de outros países da América Latina, em 21ª, com nota 73. O que eles fazem de diferente? No que o Brasil pode se espelhar?

AS – Países com alta qualificação, em regra geral, têm instituições mais profissionalizadas. A polícia no Chile, por exemplo, é muito autônoma em relação ao poder político, são mais profissionais e são mais respeitadas. Quem fará parte da polícia passa por bons ensinamentos e treinamentos, o que faz a instituição ser muito confiável e com nome forte. No Brasil e no México, por exemplo, a polícia é vista como parte do problema. Ela está muitas vezes vinculada ao crime organizado. Onde a policia não funciona, não pode haver verdadeira luta contra a corrupção. No Chile, é mais difícil ser corrupto, porque a pessoa pode se meter em problemas com a polícia.

É um tema estrutural que envolve várias instituições e, nesses países, a polícia, os partidos políticos, os congressos e parlamentos, a justiça são instituições mais limpas, transparentes e honestas.

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