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Caso Cachoeira gera clima de instabilidade política em Goiás

10 de abril de 2012 - 10:11

Goiás vive uma instabilidade política inédita após a Polícia Federal (PF) revelar que políticos goianos, como o senador Demóstenes Torres (sem partido) e assessores do governador, Marconi Perillo (PSDB), tinham relações próximas com o empresário do envolvido com jogos de azar, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

A divulgação das conversas telefônicas entre os políticos e Cachoeira gerou um tsunami político no Estado. Figuras antes consideradas intocáveis, como o próprio senador Demóstenes Torres, hoje são vistos com descrença.

As revelações das escutas da PF soam como uma morte política de Demóstenes que, há menos de um mês, era cotado para assumir a Prefeitura de Goiânia ou mesmo o governo do Estado no lugar do tucano. Perillo, em seu terceiro mandato, é apontado por líderes da Assembleia Legislativa como uma figura que terá dificuldades para se reeleger em 2014 ou apoiar algum candidato à Prefeitura de Goiânia em 2012.

Na semana passada, dois funcionários do alto escalão do governo goiano pediram exoneração do cargo por supostas ligações com Cachoeira. A chefe de gabinete de Perillo foi flagrada em conversas telefônicas falando sobre operações da Polícia Federal em Goiás; o então presidente do Departamento de Trânsito em Goiás (Detran-GO), Edivaldo Cardoso, também deixou o governo, após ser apontado pela imprensa local como lobista dentro do governo em favor do empresário de jogos de azar.

Além disso, as investigações da PF revelaram que o grupo comandado por Cachoeira tinha tentáculos em vários órgãos do Estado, como nas Polícias Civil e Militar. As escutas telefônicas também mostram que membros da quadrilha tentavam viabilizar indicações de apadrinhados em órgãos do Estado, como no Detran goiano, por exemplo.

A avalanche de denúncias no âmbito do poder executivo desgastou a imagem de Perillo no Estado, conforme políticos ouvidos pelo iG.
Integrantes da oposição ao governo Perillo, apontam que a própria vinculação de Demóstenes com Cachoeira macula a imagem do governador. Os dois fizeram campanhas juntos em 2010 e hoje, segundo as lideranças do PT e do PMDB, é difícil dissociar um político do outro.

“Ora, se existe a denúncia de que o Demóstenes é ligado ao Cachoeira, qual é a garantia que eu tenho de que o Perillo também não tem algum vínculo?”, questionou-se o líder do PMDB na Assembleia, deputado Paulo Cézar Martins.

O governador demonstra tranquilidade. Ele mantém sua rotina administrativa, com audiências e encontros políticos diários e não fala em faxina no governo, apesar de admitir que não vai dificultar a saída de membros do governo com alguma vinculação com Carlinhos Cachoeira.

No entanto, apesar dessa aparente tranquilidade, Perillo é acusado por membros do PMDB de cercear a liberdade de imprensa em Goiás e de impedir a circulação de veículos de imprensa nacional com algum tipo de ligação do nome dele com Carlinhos Cachoeira, como as revistas Época e Carta Capital. O governo nega qualquer atitude do gênero.

Na Assembleia Legislativa do Estado, deputados estaduais ainda não tiveram um forte debate na tribuna sobre as andanças de Cachoeira nas rodas de conversas políticas do Estado. Votações importantes também foram adiadas após a Operação Monte Carlo.

Cachoeira é visto como um homem influente, bem informado, frequentador das rodas de conversas entre os políticos goianos. Que sempre buscava informações sobre o processo de sucessão e sobre os bastidores. Era quase um ser onipresente. Praticamente todos os políticos goianos tiveram algum contato com o empresário.

O deputado da base governista, Major Araújo (PRB), admite que o Estado vive uma situação de instabilidade política por causa da ligação de membros do executivo e legislativo com Carlinhos Cachoeira.

“Há muito receio de se que toque no assunto (Carlinhos Cachoeira). A casa está praticamente parada. Tivemos duas ou três sessões da Comissão de Constituição e Justiça em mais de um mês. O normal eram duas por semana”, disse Araújo.

“O problema é que muita coisa precisa ser descoberta. São 89 pessoas com alguma vinculação até agora. Mas isso nem é a metade da investigação. Quando as investigações avançarem, teremos outras surpresas”, prevê o deputado Luís Cesar Bueno (PT), autor de um pedido de CPI que deve ser aprovado nesta terça-feira pela Assembleia Legislativa de Goiás.

Outros políticos importantes de Goiás também se prejudicaram com as denúncias contra Cachoeira. Nos bastidores, fala-se que praticamente toda a classe política do Estado tem receio de ter seu nome vinculado a Cachoeira. Quer seja em maior, quer seja em menor grau. Isso tanto na Assembleia Legislativa, quanto na Câmara de Vereadores de Goiânia ou mesmo na representação goiana na Câmara Federal.

Um exemplo: todos os quatro dos principais pré-candidatos a prefeito de Goiânia foram citados tendo envolvimento o empresário de jogos de Azar. Cairo de Freitas, assessor do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), pediu exoneração do cargo na semana passada após ter mediado um encontro entre vereadores, com a presença de Carlinhos Cachoeira, para discutir a liberação das obras do Parque Mutirama, questionada na Justiça pelo PSOL, por indícios de superfaturamento na compra de brinquedos. Quatro vereadores estiveram nesse encontro, entre eles Elias Vaz, segundo colocado nas intenções de voto.

O encontro dos vereadores com Cachoeira para discutir a liberação de uma obra considerada irregular atingiu politicamente tanto o prefeito, quanto o vereador socialista. “Eu não vou negar que conversava com Cachoeira. Conversava. O problema é que tipo de conversa. Eu falava com ele amenidades. Não havia corrupção envolvida. Agora, isso pode ser um problema político, sem dúvida, para quem não souber separar as coisas”, admite Vaz.

Além disso, o próprio processo de discussão pré-eleitoral saiu da pauta dos jornais e hoje voltou aos bastidores. Há pré-candidatos, como o deputado federal Sandes Júnior (PP) que foi obrigado a interromper as articulações para sua candidatura por causa do escândalo Cachoeira. Júnior foi flagrado em conversas com Carlinhos Cachoeira. Ele supostamente pediu dinheiro ao bicheiro. Júnior negou.

Nas ruas, as pessoas afirmam estar decepcionadas com as revelações da PF. Principalmente em relação a Demóstenes Torres. Considerado antes um defensor da Justiça e da moral, quase um santo, uma exceção na classe política, hoje ele é visto como “apenas mais um”.

"Eu tinha muita fé no Demóstenes. Ele foi um cara super honesto. Votei nele porque acreditava que ele era honesto. Hoje não se se voto novamente", afirmou o autônomo Antônio Robério Leite, de 34 anos.

Fonte: iG – 10/04/2012

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