Notícias

Busca

MATRA

Controle de gastos públicos e corrupção

26 de junho de 2012 - 09:09
Editorial Correio Braziliense – 25/06/2012

Em 1995, importante jornal norte-americano mencionou que a corrupção no Brasil tinha perfil endêmico. Dicionários estampam que essa palavra pode ser traduzida como próprio de uma região ou população específica. Mas o que a publicação quis expressar foi que, na política brasileira, a corrupção seria algo inerente à sua natureza. Na época, a opinião provocou mal-estar entre os governantes brasileiros, com ecos no âmbito diplomático. Mas, passados 17 anos, o que se vê no país é o pipocar de escândalos em todas as esferas de poder.

Não precisamos ir longe. O Brasil assiste ao desenrolar da CPI do Cachoeira, que apura um sem-número de maracutaias engendradas pelo contraventor goiano Carlinhos Cachoeira. O Supremo Tribunal Federal(STF) marcou para 1º de agosto o início do julgamento dos envolvidos no esquema do mensalão, descoberto há sete anos. Em Minas Gerais, a PF acaba de desmantelar uma rede de corrupção em 37 municípios do norte do estado, prendendo 16 pessoas.
O mais lamentável, no entanto, é que, no dia a dia do país, a sistemática de acompanhamento e controle dos gastos públicos, sobretudo os relativos a obras, carece de mais rigor. Ou seja, os fatos são apurados, mas os envolvidos apenados pela Justiça nunca devolvem o dinheiro desviado. Não se sabe se por incompetência da polícia judiciária ou se de fato a inteligência dos corruptos é tamanha que os valores surrupiados vão parar em paraísos fiscais. No escândalo da construção do TRT-SP, quando sumiram R$ 200 milhões, foram recuperados se tanto R$ 55 milhões.

Embora enraizada na cultura política brasileira, a corrupção pode, sim, ser debelada, porém isso somente será conseguido se os órgãos de fiscalização e de controle -Tribunal de Contas da União (TCU) e afins – deixarem de ter postura meramente repressiva dos atos de corrupção e passarem a ter enfoque preventivo, para deixar anêmicos os esquemas venais no nascedouro, antes de causar danos ao patrimônio público.

Platão (427/348 a.C.) julgava a corrupção natural à democracia porque esta seria o regime do abuso, da desordem, do individualismo, do desinteresse dos cidadãos pelo bem comum. Vale discordar do filósofo grego. O ideal democrático é o da igualdade, da fraternidade, da solidariedade, da tolerância, da liberdade, mas da liberdade com regras, do governo das leis que visam à realização individual na comunhão do bem comum. Por isso, diz-se que a corrupção é o cancro da democracia.

Desprezando as leis e as instituições, violando a ética e a justiça, corrompe o ideal democrático da subordinação do egoísmo individual ao bem comum. Como fato individual, a corrupção é crime, reprime-se com a lei penal; como fato cultural, a corrupção previne-se e cura-se pela educação cívica, algo que os integrantes de uma comissão especial da Câmara dos Deputados desprezaram ao aprovar medida que garante supersalários para funcionários públicos nas três esferas.

 

Comentários

Mais vistos