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Corrupção só acaba se não começa!

18 de janeiro de 2012 - 12:33

É preciso aprender a dizer não! O não é o freio que está faltando ser usado em nossa sociedade. Pelo rechaço da corrupção, antes mesmo de seu nascimento, é que se vence a corrupção. Ou seja, é preciso abortar. A corrupção é um feto malévolo que leva a sociedade a óbito. O não é uma faculdade que todo cidadão dispõe, quer os que estão no poder, quer os de fora dele. Rejeitar a corrupção é podá-la pela raiz, pois se não há pessoas corrompíveis, os corruptores perdem seu poder, isto é o que afirma a magistrada bauruense Rossana Curioni.

A juíza de direito afirma que a corrupção no poder gera uma situação de cascata: se ela é aceitável no alto escalão, então, em meio ao povo, tal código de ética paralelo também torna-se aceitável. É a cultura que está corrompida. Por isso, antes de qualquer coisa, corrupção é uma questão de caráter! Daí, não importa se a legislação prevê punição de 20 meses ou 20 anos para o corrupto, pois a honestidade não é fruto do medo da punição, e sim dos valores defendidos por um sujeito.

É possível aumentar a rigorosidade das penas, mas duas questões devem ser levadas em consideração. Primeira: ainda que os corruptos sejam denunciados e descobertos, eles são submetidos à morosidade dos trâmites processuais. Vale lembrar que o Brasil dispõe, em média, apenas um juiz para cada vinte e oito mil brasileiros. A Alemanha para se ter uma ideia tem um juiz para cerca de três mil e quinhentos alemães. Adivinhe em qual país a justiça é mais ágil? Segundo: a corrupção não é mero problema de lei, mas uma consequência da crise moral que vivemos. Atualmente, temos uma sociedade como que desanimada da virtude. Convivemos com um mundo que parece ter desenvolvido uma vergonha da honestidade. Aprimorar tal sistema judiciário e administrar a crise moral que vivemos são fatores que urgem


Diante de tal problemática social, tanto a juíza Rossana Curioni quanto o docente de filosofia, Fausi dos Santos, citam duas instituições como fundamentais nesse resgate de valores: a família e a escola.

Os pais devem parar de terceirizar a educação dos filhos!, declara a magistrada. Fausi completa: O equívoco está na formação do sujeito. Por isso, a família deve assumir seu papel, pois ele é primordial. Assim, família e escola devem dar as mãos e abraçar a formação integral do cidadão, desde sua infância. O professor Fausi usa-se do imperativo categórico do filósofo Kant para afirmar que os princípios valorativos são sempre internos, pertencem ao foro íntimo de uma pessoa. Por isso, conscientizar é, deveras, mais importante que amedrontar com leis ainda mais duras.

Quando se deseja uma sociedade menos corrupta, deve-se olhar não só para os que estão no poder isso seria um equívoco -, deve-se atentar para o povo, para a juventude, para as diversas instituições sociais. Por vivermos numa democracia, os valores éticos devem perpassar antes a cultura para, depois, poderem ser vistos nas atitudes morais dos líderes políticos. Neste sentido, Curioni parafraseia Rui Barbosa ao afirmar que o povo brasileiro não é uma nação de corruptos, como muitos querem!. Ainda que haja teóricos da antropologia defendendo a corrupção como algo natural e, alguns, chegando ao extremo de afirmar que corrupção é coisa da alma, é preciso entender que a vida social é sempre uma luta do homem contra si próprio. Isto é, a concupiscência pode ser inconsciente e inerente ao homem, mas a luta contra ela é uma atitude racional, deliberada e, visivelmente, necessária para a manutenção da sociedade que queremos. Por isso, biologismos não justificam as ações imorais e maléficas da corrupção, ao contrário, apenas denunciam a egocentria animalesca que, sempre mais, precisa ser vencida pelas pessoas de bem.

Frente a essa sociedade em crise, a magistrada levanta duas realidades com as quais convivemos: a falta de vontade política em combater a corrupção e o sentimento de impunidade que ronda nossa pátria e algumas outras partes do mundo também.

Importa salientar que o que a mídia divulga da corrupção são sempre os fatos mal sucedidos, as tentativas que não tiveram o êxito esperado. Ou seja, o que está submerso na sujeira do poder público pode, infelizmente, ser ainda maior do que podemos pensar. Um exemplo relacionado a isso que deve ser analisado pelos cidadãos éticos é o fato do financiamento de campanhas ainda ser aberto ao investimento de empresas privadas. Ora, qual empresário investe seu dinheiro em algo sem esperar lucros dessa ação? Esse é questionamento da juíza Rossana. E isso dá margem para debatermos a justificação dos financiamentos públicos de campanha. O que poderia, se aplicado e bem fiscalizado, romper as relações de submissão que muitos políticos têm diante de empresas privadas que os financiaram até chegar ao poder e, depois, cobram retornos financeiros lucrativos, naturalmente.

Na mesma linha de raciocínio, a magistrada ressaltou o fato inovador e maléfico do envolvimento do crime organizado nas campanhas políticas. O que, já em essência, denota uma deturpação da realidade lícita e democrática garantidas por lei. Não quero mais pistoleiros e assassinos, quero deputados e senadores!, isso é o que pensa atualmente algumas grandes facções criminosas. E é assim que se cria a máfia do colarinho branco, segundo Curioni.

Diante dessa realidade complexa, o docente de filosofia afirma que é na simplicidade e defesa de valores bem definidos que poderemos vencer as investidas corruptas de nossa sociedade. Precisamos, com urgência, usar o poder que temos nas mãos. Há os órgãos constituídos que devem, por função, lutar ao nosso lado. Desde a polícia e ministério público até o poder judiciário, todos estão a serviço da lei. E ainda, a sociedade organizada em ONGs, associações e partidos, devem cumprir seu papel cidadão, denunciar e levantar provas contra os corruptos do poder.

O poder legislativo também possui essa função de fiscalizar. Por isso, conforme o povo se torna mais consciente, a tendência é que elejam pessoas mais qualificadas para compor essa instituição pública. E, ainda, além desses instrumentos todos, o cidadão deve usufruir de seu poder particular para defender os valores básicos. Ou seja, o professor Fausi dos Santos explica que em nossa casa, com nossa família, em nosso trabalho, no grupo de amigos etc., todas as instâncias sociais são locais propícios para exercermos nossa cidadania e ajudarmos na formação de bons cidadãos. E atualmente, com o avanço das tecnologias da informação, a internet se mostra como um espaço democrático, aberto à defesa de bons valores, os valores necessários que precisamos para pôr fim à corrupção que vemos.

Se queremos ter uma sociedade melhor hoje, precisamos viver o aforismo que diz: um olho no futuro e dois no presente!. É assim que revolucionamos o nosso agora. Para fazermos uma revolução possível, precisamos estar unidos no combate a essa doença social que é a corrupção. A cura necessária passa pelas mãos de cada um, por isso, quanto mais pessoas tivermos engajados nessa causa, menos tempo nossa sociedade sofrerá com esse mau.
 
O autor, Prof. Wellington Martins, é formado em Filosofia (USC-Bauru) e mestrando em Filosofia Política (PUC-SP) am.wellington@hotmail.com

Fonte: BATRA Bauru Transparente

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