Corrupção e má vontade

“Vai terminar em pizza” tornou-se um bordão pejorativo para as CPIs que são instaladas no Congresso Nacional e outras casas legislativas do País. Mas não é por acaso. Acontece que uma Comissão Parlamentar de Inquérito, quando é levada a sério e seus integrantes vão a fundo nas investigações sempre trazem à tona maracutaias e armações políticas que envolvem gente graúda, inclusive do governo e do Legislativo. Afinal de contas, a podridão é muito grande nos poderes constituídos. Uma prova de que a fornalha de pizza do Congresso Nacional aumenta cada vez mais, foi a CPI do Cachoeira, que investigou o bicheiro Carlos Augusto Ramos e o envolvimento de grandes empreiteiras, principalmente a Delta Construções. Na ocasião, o ex-senador Demóstenes Torres, que era do DEM , acabou tendo o mandato cassado pelo envolvimento descarado com o bicheiro. E olha que Demóstenes é um promotor público! Mas é tudo sempre muito armado e dissimulado. No lugar de Demóstenes entrou o suplente dele, Wilder Morais, que não por acaso, também é ligado ao contraventor Cachoeira e ex-marido da atual mulher do bicheiro, Andressa Mendonça. Ou seja, tudo farinha do mesmo saco. Mas o maior descalabro mesmo foi o triste final da CPI do Cachoeira, que terminou em dezembro de 2012 com o relatório rejeitado e sem levar adiante muitas denuncias, por incompetência e má vontade. Contudo, a Policia Federal retomou as investigações sobre a empreiteira Delta e cumpriu, na terça-feira, em três estados, mandados de busca e apreensão que têm como alvo a empresa Delta Construções – suspeita de desviar milhões de reais por meio de empresas de fachada. O alvo da Operação Saqueador é um esquema de lavagem de dinheiro da empreiteira Delta que, segundo as investigações, movimentou cerca de R$ 300 milhões. De acordo com a Polícia Federal, o dinheiro possivelmente foi desviado de obras públicas. Os documentos no inquérito indicam que o esquema funcionava assim: durante 5 anos, entre 2007 e 2012, a empreiteira Delta repassava grandes quantias para 19 empresas de fachada. Entre 10 e 20 pessoas eram usadas como laranjas e sacavam os valores da conta dessas empresas, em dinheiro, na boca do caixa. Com essa operação a Polícia Federal desmonta de vez as armações de parlamentares que fizeram terminar em pizza a CPI do Cachoeira, deixando claro que a corrupção é grande no Congresso Nacional e que há interesses escusos de peixes graúdos na política e no governo. Os policiais buscaram provas em 20 locais, espalhados por três estados: 11 em São Paulo, quatro em Goiás e cinco no Rio de Janeiro. Incluindo a casa de Fernando Cavendish, sócio da Delta, onde foram apreendidos três carros de luxo do empresário, além de documentos e computadores. A Justiça Federal do Rio bloqueou os bens de Cavendish e de mais dez pessoas investigadas na operação. O bloqueio inclui o apartamento do empresário em um dos endereços mais caros do país e ainda R$ 330 milhões em patrimônio. Enquanto a fornalha do Congresso Nacional continua produzindo toneladas de pizzas, a Polícia Federal vai trabalhando e demonstrando o sabor azedo das pseudo-investigações das CPIs, recheadas de corrupção.

* Editorial do Jornal da Manhã