DAEM VAI PAGAR MAIS DE R$ 1 MILHÃO PARA SUBSTITUIR REDES DE ÁGUA ANTES DA CONCESSÃO. ORA, TEM OU NÃO TEM DINHEIRO PARA FAZER OS INVESTIMENTOS?
Foi publicada na edição do dia 16 de fevereiro do Diário Oficial do Município a homologação por parte do DAEM, da empresa “Replan Saneamento e Obras Ltda.”, como vencedora do Pregão Presencial número 05 de 2023, para execução de extensões e substituições de redes de água e respectivo conserto da via no local onde o serviço foi realizado.
De acordo com o que foi veiculado na imprensa local, o DAEM (Departamento de Água e Esgoto de Marília), vai investir só neste contrato R$ 1.122.810,55, com um detalhe, a empresa que ganhar a licitação e assinar o contrato de concessão, receberá sem custos para ela (custo do povo), uma obra ainda em execução, já que o prazo é de seis meses.
A Matra já tinha noticiado, em julho do ano passado, a assinatura de outro contrato pelo DAEM no valor de mais de R$ 1,6 milhão (R$ 1.612.456,82), para a contratação de uma empresa especializada para a construção dos emissários (tubulações) que farão as interligações da rede de esgoto em diferentes pontos da cidade até as Estações de Tratamento do Pombo e do Barbosa, menos de um mês depois da aprovação na Câmara Municipal do Projeto de Lei que autorizou a concessão da Autarquia Municipal. Ou seja, só nessas duas contratações soma-se o valor de quase R$ 2,8 milhões a serem pagos com o dinheiro do povo.
Ora, se afirmam que precisam conceder o DAEM porque não tem o dinheiro necessário para fazer os investimentos, de onde vem esses recursos? Isso é menosprezar a inteligência da população! Preste atenção mariliense: estão gastando dinheiro público (do povo) para fazer diversas melhorias nas redes de água e esgoto e concomitantemente concedem o DAEM para uma empresa privada explorar o serviço. No mínimo estranho. É ou não é? Isso contraria o interesse público! Afinal, o que justificaria primeiro fazer os investimentos com o dinheiro do povo para depois conceder e a população ainda pagar mais caro na conta de água?
Os dados financeiros do DAEM ainda não foram disponibilizados de forma clara e objetiva no Portal da Transparência para que a população possa saber de fato qual é a situação da autarquia. Mas se uma parte dos investimentos já está sendo feita, voltamos a questionar: por qual motivo a Administração Municipal não faz um planejamento, um cronograma de curto, médio e longo prazo para fazer todos os investimentos necessários sem precisar conceder o Departamento à iniciativa privada? O DAEM pode até não ter todo o recurso necessário em caixa neste momento, mas ele tem a capacidade de geração desse dinheiro por meio dos serviços prestados. Até porque nem a concessionária faria todos os investimentos de uma só vez, e mais, o prazo dado pela Lei do Marco Regulatório para as providências no saneamento vai até 2030.
Agora, fazer os investimentos com dinheiro público para depois conceder é um absurdo e é a sociedade que paga essa conta em duplicidade (antes e depois da concessão).
Em um artigo publicado no jornal Estadão, no dia 18 deste mês, André Lucirton Costa (pesquisador e ex-diretor da FEARP/USP) e José Everaldo Vanzo (Engenheiro Sanitarista), afirmaram que “como não existe almoço de graça, a remuneração para o governo [na concessão onerosa] virá da tarifa cobrada dos usuários, assemelhando-se a mais um imposto”. Ainda de acordo com o texto publicado no Estadão, o mais grave é que “o governo não tem compromisso de aplicar o recurso no setor de saneamento, havendo uma transferência de recursos para outros setores”. Assim, a concessão onerosa retira recursos do setor que tem uma agenda de investimentos vasta e necessária para a qualidade de vida da população e os utiliza em outros setores.
Um caso concreto é o da concessão da grande Maceió, com 1,3 milhões de habitantes, realizada em 2020. Conforme apontou o site Migalhas, para ter sucesso no leilão o grupo empresarial vencedor acrescentou na tarifa a ser paga pelo consumidor o valor mensal de R$ 12,00 por ligação unifamiliar para bancar investimentos a serem feitos e que serão cobrados ao longo de 420 meses (35 anos) de concessão, isso a valor presente, ou seja, será corrigido pela inflação ao longo desses 35 anos da concessão.
É preciso suspender a licitação do DAEM para que não aconteça em Marília o observado em outras cidades onde as concessões estão sendo revistas por problemas como os apresentados pela Matra neste e em outros artigos escritos sobre o assunto.
Várias entidades, como o SINDIMMAR também estão se mobilizando para chamar a atenção das autoridades. O momento exige mais diálogo, responsabilidade e TRANSPARÊNCIA.
Cidadão: mostre sua indignação e conte com a Matra. Porque Marília tem dono: VOCÊ!
*Imagens meramente ilustrativas.