“Eleição de Arruda foi a consagração da corrupção”, diz cientista político
O mais novo escândalo da política brasileira, desta vez envolvendo membros do Governo do Distrito Federal (GDF) e parlamentares da Câmara Legislativa, ainda tem final imprevisível. O já chamado “mensalão do DEM” traz incertezas até mesmo para os mais experientes analistas políticos. O cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Octaciano Nogueira, no entanto, tem uma certeza: ele acredita que a eleição de Arruda ao governo do DF em 2006, depois do episódio do painel eletrônico em 2001, foi a consagração da corrupção. “Significa que valores como ética e moralidade foram descartados”, afirma.
Nogueira também se surpreende com o fato de o ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa, responsável pela filmagem dos vídeos que vieram à tona, ter sido indicado ao cargo mesmo com dezenas de processos na Justiça. “Como pode um sujeito que responde a mais de 30 processos ser escolhido secretário de governo? Onde estamos? Que país é esse?”, questiona.

De acordo com Nogueira, os bons índices de riqueza e educação do Distrito Federal – maior renda per capita do país, maior nível de pessoas com nível superior, maior quantidade de alunos nas escolas – não se refletem em bons representantes políticos. “Em países com altos níveis educacionais, pessoas que respondem a processos judiciais, com passado corrupto ou ignorantes não são eleitas pela população. Em Brasília, isso não ocorre. Tem alguma coisa errada na nossa democracia. A cultura política depende da cultura cívica. Se temos uma péssima cultura cívica, temos uma péssima cultura política. É importante lembrar que os políticos envolvidos em escândalos são eleitos por nós cidadãos”, diz.
Para o cientista político, expressar a indignação por meio de cartas aos jornais, posts em Twitter, entre outros meios, não é suficiente. “Não adianta se manifestar reclamando do que acontece na política por meio de e-mails, sites de relacionamento, etc. A população tem é de votar certo. É na eleição que o papel deve ser bem exercido”, avalia. Nogueira diz ainda que a falta de transparência nas contas públicas do GDF facilita os atos corruptos. “O pior dessa falta de transparência é que boa parte dos recursos são federais, repassados pelo Fundo Constitucional. Ou seja, não é apenas o contribuinte brasiliense que paga essa conta. É o dinheiro do país inteiro. O GDF é um apêndice do governo federal”, argumenta.
Ele conclui afirmando que a Câmara Legislativa do Distrito Federal é a “pior representação que o país já teve”. “A câmara é uma vergonha, é lastimável e não deveria existir. Deveria ser como antes da Constituição de 1988: o Senado [uma comissão específica] deveria estar legislando sobre fatos do DF”, afirma.
Fonte: Contas Abertas