Notícias

Busca

MATRA

Escândalos geram recorde de indefinidos no MT

02 de setembro de 2010 - 00:00

A crise começou com a aposentadoria forçada de dez magistrados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em razão de acusações de desvio de verbas do Tribunal de Justiça. Em seguida, o governo do Estado mergulhou em denúncias de superfaturamento na compra de maquinários para prefeituras. Dias depois, o presidente da Assembleia Legislativa, José Riva (PP), teve o mandato cassado por compra de votos na eleição de 2006.

Em menos de três meses, uma profusão de escândalos nos Três Poderes de Mato Grosso arrastou as principais autoridades e lideranças do Estado para um lamaçal de denúncias, acusações e intrigas de bastidores que contaminaram a campanha eleitoral. Além disso, quase uma centena de políticos teve seus registros de candidatura negados pela Justiça Eleitoral. Uma parte deles, como os ex-deputados Pedro Henry (PP) e Gilmar Fabris (DEM), acabou barrada pela Lei da Ficha Limpa.

Uma boa parcela do descrédito das instituições de Mato Grosso com a população tem sido alimentado pelos desdobramento desses casos. Ou melhor, pela falta de solução deles. Uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) mudou a decisão do CNJ e reconduziu os dez magistrados aos seus postos. O deputado cassado José Riva é novamente candidato a estadual e, mesmo com o pedido de impugnação de seu registro, tem amplas chances de eleger-se pela quinta vez. No caso da compra dos maquinários, a apuração esbarra na lentidão das investigações conduzidas pelo próprio governo do Estado. E, além disso, há insinuações da oposição sobre um novo escândalo que poderia ligar o governo a uma suposta ciranda financeira com precatórios.

A crise institucional e a insistência dos candidatos "ficha-suja" em obter um mandato reforçaram os sentimentos de repulsa e indiferença da população com as urnas. Pesquisas recentes mostram um índice de eleitores indecisos acima de 30%. O nível médio de rejeição dos principais candidatos supera 20% em várias sondagens. "É uma crise sem precedentes, histórica. É algo sem paralelo com outros Estados", resume o analista político Alfredo Menezes, professor da UFMT. "Estamos expondo nossas vísceras".

Na gênese do desencanto da população, apontam analistas, estão a "privatização" do Estado e a sombra do esquema criado pelo "comendador" João Arcanjo Ribeiro, preso desde 2003, cujas raízes seguem incrustadas em esferas empresariais e estatais. "Há um quadro histórico de impunidade nas altas rodas", diz o presidente da OAB-MT, Cláudio Stábile. "Por isso, é preciso " desprivatizar " o poder público, impedir o uso de cargos para defesa de interesses próprios". O coordenador estadual do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, Antonio Cavalcante Filho, acusa as "relações promíscuas" e o "poder paralelo infiltrado" ao longo de três décadas de "descalabro" em Mato Grosso. "O Arcanjo ajudou a criar isso com apoio de muita gente. O Estado foi dominado, cooptado, e só a mobilização social pode mudar algo", diz.

O momento é tão grave que o atual governador e candidato à reeleição, Silval Barbosa (PMDB), admite estragos da crise dos Poderes. "Me preocupa porque tudo o que é demais prejudica, fragiliza. A relação entre os Poderes é boa, mas há uma crise que tentamos superar", diz. E ressalva: "No caso do Legislativo, é um problema individual. O Estado é muito maior do que isso". O ex-governador e candidato ao Senado Blairo Maggi (PR) alerta para o prejuízo institucional: "Isso se arrasta há tempos e interfere no humor das pessoas", avalia. "Mas são problemas pontuais que serão resolvidos pela Justiça", afirma. Mas e a crise do Judiciário? "São questões internas deles", afirma.

A sucessão de escândalos tem sido bastante explorada na campanha. O caso dos maquinários, por exemplo, procura atingir Barbosa e Maggi. Ex-secretários e empresas são acusados de desviar R$ 44 milhões em ICMS e juros cobrados irregularmente na compra de 705 máquinas e caminhões. Em meio ao turbilhão de denúncias, Barbosa admite ter havido "erro" no processo de licitação. "Chegou ao Blairo [Maggi] e ele mandou investigar. Eu quero auditoria. Tentaram lesar o Fisco e vão ter que devolver esse dinheiro", diz. Maggi diz que a oposição falhou em associar sua figura ao caso. "O tema foi explorado na campanha, mas não pegou. Foram tomadas as medidas na época e, agora, resta à Justiça decidir a parte criminal".

O episódio tem sido explorado pelos rivais ao governo, o ex-prefeito da capital Wilson Santos (PSDB) e o industrial Mauro Mendes (PSB), mas parece não ter abalado a campanha oficial até aqui. Silval Barbosa lidera as intenções de voto com boa margem votos sobre Santos e pode ganhar ainda no primeiro turno. Na corrida ao Senado, Maggi está bem à frente do tucano Antero Paes de Barros e de Carlos Abicalil (PT).

A cassação de José Riva, apontado como o político mais poderoso de Mato Grosso, fez tremer as bases da Assembleia Legislativa. Sem Riva, muda a correlação de forças, amplamente favorável ao governo. Reeleito com 83 mil votos em 2006, e principal "puxador" de votos da coligação, o ex-deputado minimiza a crise, mantém a campanha e já faz planos. "Uma crise causa preocupação, confunde. E tem os maldosos que atrapalham. Só que o povo sabe que é irrelevante", afirma. Sobre a cassação, ironiza: "Era um tempo que eu precisava para percorrer o Estado". Mas corrige-se em seguida: "Claro que gostaria de estar na Presidência da Assembleia. Mas tudo bem". Riva calcula eleger outros cinco deputados com seus votos e prevê uma oposição com apenas sete votos na Assembleia. Mas cogita não presidir novamente o Legislativo. "Não sei se voltaria para a Mesa. Penso em ajudar a compor. Ainda vou pensar".

Procurado pelo Valor para comentar a crise gerada pelo afastamento e a recondução dos dez magistrados do TJ-MT, o presidente da Corte, desembargador José Silvério Gomes, informou, por meio da assessoria, que prefere "aguardar a conclusão dos processos" para falar do caso.

Fonte – Valor Econômico

Comentários

Mais vistos