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FSM, a volta da Esperança!

11 de maio de 2011 - 08:47

Quarta-feira, quatro de maio de 2011, além de ser uma data que poderá ficar para a história de da cidade com o nascimento do Fórum Social de Marília (FSM), foi um dia que me provocou um expressivo remember. Durante a reunião que definiu o nascimento do Fórum, fui dragada mentalmente para 1981, numas das primeiras matérias que tive o privilegio de fazer como jornalista: o nascimento da Sociedade Amigos de Marília (SAM).

Ambas as entidades surgiram por parte dos segmentos sociais da cidade pressionados pela falta de respeito dos políticos para com a população da cidade. O que mais me impressionou é que ao recordar os pontos reclamados nos encontros do FSM e da SAM, quatro deles, há 30 anos, permanecem na incubadora como se tivessem acabado de nascer: o transporte coletivo urbano, taxas do IPTU, ocupação do solo e o tratamento de esgoto.

A SAM teve uma vida curta e foi idealizada por um grupo de professores da Unesp de Marília, sob o comando do professor e cientista social, Helton Faleiros, um homem como poucos que promovia na rua verdadeiras aulas sobre o que eram impostos e direitos dos cidadãos. Tenho gravado as lembranças de vê-lo no pátio da prefeitura explicando a quem quisesse ouvir, em linguagem assimilável por todos, o que era IPTU e no que este famigerado imposto deveria se transformar. Professor Helton foi um raro militante político e se foi em meados dos anos 80, deixando um vazio político na cidade, já que estava milhões de anos luz na frente de todos que aqui ficaram.

O FSM, recém nascido, foi convocado pelo “movimento social de Marília”, num e-mail que a mim chegou assinado pelo secretário do UJS (União da Juventude Socialista) e presidente do Conselho Municipal da Juventude de Marília, Luciano Cruz. Simplesmente renasci como cidadã ao ver a convocação. Fui até a reunião que definiu os eixos que serão focados pela nova entidade, que conta com a participação vital da Matra (Marília Transparente). Sai de lá novamente cheia de esperança, sonhando com o resgate da dignidade política e social desta cidade. Não há como não se lembrar do saudoso jornalista carioca que assim se definia: nome, Antonio Maria; profissão, Esperança.  Acho que é isso: jornalistas idealistas são feitos de esperança e se afastam de tudo que possa significar o continuísmo das velhas táticas ladroeiras.

Depois do parto do FSM, não pude deixar de refletir sobre o que poderia ter sido uma SAM não fosse sua frágil vida. Nestes 30 anos que separam a criação das entidades, muita história rolou e transformou o país que vivia sob o triste comando da ditadura militar. As forças de quem lutava pelas transformações locais foram canalizadas pelo movimento nacional da Anistia em 1982, pelas Diretas Já em 1994, pelo surgimento de partidos de esquerda (alguns depois se revelaram de direita), etc. A história foi-me revelando aos poucos o quanto a fragilidade política do humano é preocupante. Muitos no caminho se encantaram com o poder e fizeram e fazem de tudo para não largá-lo, tendo a corrupção como principal aliada. Vi tantos homens que se fizeram em discursos em nome da liberdade e dignidade se transformarem gradativamente em déspostas, que cheguei a duvidar das existências da integridade e da ética política. 

Nestes últimos 30 anos, ouso dizer que vive cenas semelhantes do filme “Dormindo com o Inimigo”. Chego a ter asco de ter partilhado e lutado por e com pessoas tão desprezíveis que não se vêem traidoras. Não passam de traíras de todo um ideal social por mim e por muitos até hoje sonhado e buscado: uma sociedade que priorize o humanismo, sob o comando de homens democraticamente eleitos sem suspeitas e sob a batuta de uma Justiça realmente cega e sem bolsos.

Em algum período desses últimos 30 anos, me revoltei como jornalista  e tive a oportunidade de expressar minha revolta quando um vereador conhecido por ser de direita me chamou para trabalhar. Naquele momento, aquele vereador seria de extrema esquerda, denunciando toda sujeira política escondida nas varas criminais de Marília. Aliás, a maioria das denuncias permanecem engavetadas sem que nenhum político criminoso fosse punido. Pelo contrário, eles deram frutos, engordaram e se transformaram em monstros horríveis que usam máscara de boa gente, enganando desinformados vítimas de uma educação falha e uma imprensa que se deteriorou junto com a política local, sendo dominada pelos próprios políticos.

Por quatro anos, editei um boletim chamado A Verdade, do ex-vereador Pedro Pavão. Lá denunciamos todas as falcatruas que podíamos, enquanto os jornais e rádios da cidade se calaram. Aliás, a omissão da imprensa local que continua publicando apenas o que lhe interessa e quando se interessa, sem nenhum respeito ao que chamam de formar opinião e liberdade de imprensa, foi extremamente criticada pelos lideres sociais presentes no parto do FSM. Como vê, conquistamos muito nos últimos 30 anos na política nacional, mas as questões locais foram agravadas como o recrudescimento do coronelismo comandado na cidade pelo hoje deputado federal Abelardo Camarinha. Não fosse a maioria dos supremos justiceiros do Brasil, ter votado contra a Lei da Ficha Limpa para este ano, este homem, o segundo maior ficha suja do país, junto com outros sujos, já estaria fora da política nacional, e quem sabe até, na cadeia.

É isso: feliz como cidadã e por ter voltado a sentir a volta da esperança. Obrigada às lideranças que fundaram o FSM. E vamos, novamente, a luta! 

Autora: Márcia de Oliveira, jornalista

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