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Governo terá 70% dos integrantes da CPI do Cachoeira

25 de abril de 2012 - 09:51

As informações surgidas até agora sobre o Caso Cachoeira atingem tanto políticos ligados ao governo como à oposição. Se há acusações contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), um dos principais nomes da oposição no Congresso, há também contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que pertence ao PT. A despeito, porém, dessa situação, a CPI que será instalada hoje (25) no Congresso Nacional será majoritariamente governista. Cerca de 70% dos integrantes da comissão parlamentar mista de inquérito pertence à base do governo da presidenta Dilma Rousseff. Dos 32 integrantes, excluindo-se o presidente da comissão, Vital do Rego (PMDB-PR), o realtor, Odair Cunha (PT-MG), 22 são governistas e apenas dez são oposicionistas.

O governo terá 80% dos senadores da CPI e 66% dos deputados. Ou seja, a oposição conta com apenas dez representantes na comissão, menos de um terço.

O relator indicado pelo PT, deputado Odair Cunha (MG), é vice-líder do governo na Câmara e ligado ao grupo da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Já o presidente do colegiado, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), tem demonstrado obediência ao governo em votações estratégicas no Senado. O líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), também foi indicado para participar dos trabalhos da CPI.

Fator Delta

Apesar de o Planalto garantir que não interferirá nos trabalhos da CPI, o cenário apresentado deixa claro que o governo poderá articular junto aos seus prepostos no Congresso uma investigação que não traga danos maiores para os planos governistas. Um dos principais focos da CPI é o grupo empresarial Delta, que tem centenas de contratos com o governo, sendo a principal executora de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Além disso, aliados estratégicos da presidenta Dilma Rousseff estão sob suspeita de envolvimento no esquema de Cachoeira, como o governador do Rio de Janeiro, o peemedebista Sérgio Cabral, amigo próximo de Fernando Cavendish, presidente da Delta. O governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, é citado nos inquéritos das Operações Vegas e Monte Carlo, que investigaram o esquema de exploração de jogo ilegal de Carlinhos Cachoeira.

Apoio aos bingos

O desequilíbrio de forças pode ajudar a comprometer ainda mais os nomes da oposição envolvidos, a começar pelo alvo político principal da CPI, o ex-líder do DEM no Senado Demóstenes Torres (agora sem partido-GO). Alvo de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado, Demóstenes é apontado pela PF como um dos principais beneficiários do esquema criminoso operado por Cachoeira. Os inquéritos mostram que ele atuava como uma espécie de lobista do contraventor em assuntos legislativos. Para complicar sua situação, Demóstenes foi à tribuna do Senado dizer que era apenas amigo de Cachoeira e que não sabia das suas atividades ilícitas.

Um dos grampos nas operações da PF mostra Cachoeira pedindo a Demóstenes que interceda pela aprovação de um projeto que transformava o jogo ilegal de contravenção em crime. “Mas isso te pega, não?”, responde Demóstenes, demonstrando claramente que sabia o que fazia Cachoeira. Tal situação já pode levar à cassação de Demóstenes, porque é considerado quebra de decoro mentir no plenário. Essa, inclusive, foi a alegação que levou à cassação do ex-senador Luiz Estevão. Além de Demóstenes, há outros nomes da oposição que deverão ser alvo de investigação, como o governador de Goiás, Marconi Perillo.

Veja os perfis dos 16 deputados indicados como titulares para a CPMI do Cachoeira

Cândido Vaccarezza (PT-SP)
Ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza chegou a ter seu nome cotado para ser o relator da CPI, mas enfrentou resistências por parte da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. A escolha de Vaccarezza poderia causar constrangimentos ao governo, pelo fato de ele ter sido a favor da regulamentação dos bingos e jogos de azar. No entanto, o deputado se defende alegando que a aprovação da lei que legaliza os jogos seria benéfica no sentido de evitar que o jogo fique refém da contravenção. Vaccarezza é médico ginecologista e obstetra. Embora pertença à banda mais à esquerda do PT, é amigo do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e ligado ao grupo da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Em janeiro de 2010, tornou-se o líder do governo na Câmara, em substituição ao deputado Henrique Fontana (PT-RS). No início deste ano, foi substituído pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Carlos Sampaio (PSDB-SP)
Promotor de Justiça em Campinas, o deputado Carlos Sampaio já é experiente em CPIs. Ele foi um dos protagonistas da ala jovem que integrou a CPI dos Correios, em 2005. Promotor de Justiça, Carlos Sampaio deverá ser um dos parlamentares que pressionarão a comissão para avançar nas investigações dos contratos da Delta Construtora com Carlinhos Cachoeira e com órgãos do governo federal e estaduais.

Fernando Francischini (PSDB-PR)
Delegado licenciado da Polícia Federal, Francischini deverá ser um dos protagonistas da CPI do Cachoeira. Ele é um dos grampeados por Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, araponga e braço direito de Carlinhos Cahoeira. Segundo informações do Jornal Nacional, o deputado teve seu email interceptado pelo grupo do contraventor. Dadá está preso no Distrito Federal, desde 29 de fevereiro, devido às investigações da operação Monte Carlo, realizada pela Polícia Federal.

Filipe Pereira (PSC-RJ)
Nascido no Rio de Janeiro, Filipe Pereira se formou em Ciências Atuariais (análise de riscos e expectativas, com ênfase na administração de seguros e fundos de pensão). Evangélico da Igreja Assembléia de Deus, é dono de uma empresa de produção de eventos e já foi vice-presidente da Central de Apoio à Vida e Escola, além de diretor administrativo do jornal Folha Cristã. Também atuou como gerente de negócios da EDP Corretora de Seguros. Em 2007, assumiu primeiro mandato como deputado federal. É o presidente da Juventude do PSC, partido ao qual está filiado desde 2003. Reeleito na disputa eleitoral de 2010, estreou na Câmara como titular da Comissão de Finanças e Tributação e suplente da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Votou contrariamente ao projeto que pretendia legalizar os bingos no país, rejeitado em 2010 pela Câmara.

Gladson Cameli (PP-AC)
Nascido em 1978 em Cruzeiro do Sul (AC), foi eleito deputado federal pela primeira vez em 2006, tendo sido este seu único cargo eletivo em sua trajetória política até então. Reelegeu-se na disputa eleitoral em outubro de 2010. Empresário do setor de construção civil, é sócio da Marmud Cameli Cia. Ltda. Formado em Engenharia Civil, foi responsável técnico na Construtora Etam Ltda, em 2005. Sobrinho do ex-governador do Acre Orleir Cameli, foi filiado ao PFL (atual DEM, entre 2000 e 2003) e ao PPS (2003-2005), e já está no PP desde 2005.

Íris de Araújo (PMDB-GO)
Íris de Araújo nasceu em Três Lagoas (MS) e reelegeu-se deputada federal para o segundo mandato em outubro de 2010. Foi a candidata mais votada do estado na disputa eleitoral de 2005. É evangélica e formada em Artes Plásticas (1978). Assumiu o mandato de senadora pelo PMDB em 2003, 2005 e 2006, sempre na vaga de Maguito Vilela. Vice-presidente do PMDB nacional, assumiu a presidência quando Michel Temer tornou-se presidente da Câmara. A deputada alterna sua militância política com um programa de culinária transmitido por uma emissora de TV goiana, chamado “Cozinhando com Dona Íris”.

Luiz Pitiman (PMDB-DF)
Deputado de primeiro mandato, Pitiman é empresário do ramo da construção civil. Logo no início do mandato, o peemedebista licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria de Obras do Distrito Federal, mas por divergências em relação às modificações realizadas na Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) e sobre o papel da Secretaria de Obras na construção do Estádio Nacional de Brasília, Pitiman pediu demissão do cargo em julho de 2011.

Maurício Quintella Lessa (PR-AL)
Nascido em Maceió em 1971, Maurício Quintella foi reeleito para o terceiro mandato consecutivo na Câmara em outubro de 2010. Quintella foi um dos parlamentares envolvidos na farra das passagens. Ele cedeu nove bilhetes para viagens de familiares e terceiros a Nova Iorque (EUA) e Montevidéu (Uruguai). É primo do ex-governador alagoano Ronaldo Lessa. O deputado votou favoravelmente ao projeto que pretendia legalizar a exploração de bingos, derrubado pela Câmara em 2010.

Miro Teixeira (PDT-RJ)
Carioca nascido em 1945, Miro Teixeira é um dos mais longevos parlamentares da atualidade, tendo sido reeleito para o décimo mandato na Câmara em outubro de 2010. Integrou a CPI do caso Paulo César Farias, em 1992, que levaria ao impeachment do então presidente da República, Fernando Collor. Advogado e jornalista, Miro votou contra o projeto que pretendia legalizar a exploração de bingos em todo o território nacional, rejeitado na Câmara em dezembro de 2010.

Odair Cunha (PT-MG)
Apesar de ser considerado inexperiente por alguns colegas, Odair Cunha foi escolhido o relator da CPI. Vice-líder do governo na Câmara, Odair está em seu terceiro mandato como deputado federal. Ele também é ligado à ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Na legislatura passada, ele foi o terceiro-secretário da Mesa Diretora da Casa. É advogado. Votou contra o projeto de lei que tentava legalizar a atuação dos bingos no país.

Onyx Lorenzoni (DEM-RS)
O veterinário gaúcho ganhou notoriedade como integrante da CPI dos Correios, em 2005, que investigou o escândalo do “mensalão”. Foi ainda um dos responsáveis pela instalação de uma comissão parlamentar de inquérito que investigou as ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). É uma das apostas da oposição para fustigar o governo na CPI do Cachoeira.

Paulo Foletto (PSB-ES)
Nascido em Colatina (ES) em 1956, Paulo Foletto está no primeiro mandato de deputado federal. Filiado ao PSB desde 1990, é membro da Executiva Nacional desde 2003, e atualmente é vice-líder do bloco PSB-PTB-PCdoB. É médico de formação

Paulo Teixeira (PT-SP)
Ex-líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira foi o terceiro nome cotado para assumir a relatoria da CPI, e chegou a ser considerado como o nome mais provável, mas perdeu na votação da bancada do partido. Filiado ao partido desde 1980, está em seu segundo mandato consecutivo como deputado federal. Foi líder do PT na Câmara, antes do atual líder, Jilmar Tatto. Votou contra o projeto de legalização dos bingos.

Protógenes Queiroz (PCdoB-SP)
Em seu primeiro mandato eletivo, o delegado licenciado da Polícia Federal ficou nacionalmente conhecido depois de conduzir a Operação Satiagraha, que investigou o banqueiro Daniel Dantas, entre outros. Autor do requerimento de instalação de comissão parlamentar de inquérito para investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, Protógenes pode se tornar alvo das investigações, porque escutas telefônicas que constam das investigações da Operação Monte Carlo da Polícia Federal mostram diálogos dele com Idalberto Matias Araújo, o Dadá, araponga que fazia parte do esquema de Cachoeira.

Rubens Bueno (PPS-PR)
Paranaense nascido em 1948 e professor por formação, Rubens Bueno cumpre o terceiro mandato não consecutivo de deputado federal. Entre 2003 e 2004, foi o diretor administrativo da Itaipu Binacional, uma das maiores hidrelétricas do planeta.

Silvio Costa (PTB-PE)
Pernambucano nascido em 1956, Silvio Costa é francamente a favor da legalização dos bingos. “Quem é contra a legalização dos bingos é a favor da contravenção”, costuma dizer.

Fonte: Congresso em Foco – 25/04/2012

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