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Lava-Jato: doleiros usaram corretoras para remessas ilegais

18 de setembro de 2014 - 10:44

Mais um acordo de delação premiada em negociação na Operação Lava-Jato promete revelar detalhes de como os doleiros utilizavam corretoras para fazer remessas ilegais ao exterior. Luccas Pace Junior, braço-direito da doleira Nelma Kodama, afirmou em depoimento à Polícia Federal que os doleiros pagavam 2% a título de comissão a corretoras para fechar volumosas operações de dólar à vista para pagamento de importações fictícias.

Pace Junior apontou cinco corretoras que fecharam negócios com doleiros: TOV, Levycam, Guitta, Renova e Fair. Ele disse que 80% das operações feitas por meio de empresas de fachada a serviço de Nelma foram fechadas com a TOV. E a TOV não foi usada apenas por Nelma. A corretora teria ainda fechado operações no valor de R$ 283 milhões para empresas vinculadas ao esquema do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que sangrava obras da estatal.

A TOV afirma que a informação de Pace Junior é equivocada, pois o ganho da corretora na operação de câmbio à vista acontece apenas na taxa de dólar negociada com o cliente. No mercado financeiro, a informação é que as corretoras cobram também uma taxa de corretagem, que gira entre 0,18% e 0,20% do valor da operação. A advogada da TOV, Carla Domenico, afirmou que as documentações das empresas eram legais e idôneas e que, em nenhum momento, a corretora soube que alguma delas tinha vínculo com a doleira Nelma.

— Apenas depois de dois anos de investigação é que a Polícia Federal descobriu que as empresas estavam vinculadas a essa senhora. A TOV realizou todos os procedimentos dentro das normas de compliance — afirmou a advogada.

Nesta quinta-feira, Pace Junior começa a detalhar os termos da delação premiada com a Procuradoria Geral da República. Caso seja fechada a colaboração, até agora voluntária, ele poderá repassar informações que vão além do esquema da Petrobras e levam às operações da doleira. O centro dos negócios era no município de Santo André, no ABC paulista, onde o prefeito Celso Daniel, do PT, foi assassinado.

Era Pace Junior quem operava as remessas e determinava o destino do dinheiro colhido por Nelma. Também comandava o esquema de obtenção de empresas de fachada, que consistia em verificar empresas desativadas mas com cadastro ainda ativo na Junta Comercial e repassá-las a laranjas. Na lista de empresas usadas para remessas ilegais comandadas pela doleira estão Império Import, Da Vince, Eqmed, Greta Comercio e Confecções, Mesuma e Três Irmãs.

Outros investigados pela Lava-Jato também falaram sobre a TOV. O funcionário do Banco do Brasil Rinaldo Gonçalves Carvalho afirmou, em depoimento à Justiça, que a movimentação de uma das empresas, a Império, era expressiva e variava de R$ 600 mil a R$ 1 milhão por dia — algumas vezes, ultrapassava R$ 1 milhão. Segundo o bancário, o dinheiro entrava na conta da empresa no início da manhã e no meio da tarde era fechado o câmbio.

Normalmente, as operações entre empresas são feitas com transferências bancárias. Segundo Carvalho, a movimentação da Império para a TOV era feita por meio de cheques. “Eles levavam cheques para fazer transferência para uma empresa chamada TOV, que faz o fechamento de câmbio para eles. Então, entra o dinheiro de manhã e, no final do dia, eles levam os cheques para fechar o câmbio”, contou Carvalho à Justiça.

A advogada da TOV afirmou que normalmente as operações são feitas por transferência e que as informações já foram prestadas às autoridades.

As corretoras que operavam com Nelma também prestaram serviços para o doleiro Alberto Youssef. Uma delas foi a Levycam, que admitiu ter feito seis operações de câmbio, no valor total de US$ 800 mil, com a Labogen, usada por Youssef para remessas ilegais ao exterior. A Levycam afirmou que a Labogen apresentou toda a documentação cadastral da empresa e dos sócios exigida, inclusive com a comprovação de origem dos valores a serem investidos, e teve sua sede em Indaiatuba (SP) visitada. A corretora bloqueou operações de câmbio com a Labogen quando pediu as Declarações de Importações comprovando o efetivo desembaraço das mercadorias no território nacional e não recebeu. As corretoras Renova, Guitta e Fair foram procuradas pelo GLOBO, mas não retornaram.

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