ONG criada por grandes grupos planeja autossuficiência
Criada em 1997 com o suporte de um grupo de empresas de primeira linha, a organização não governamental (ONG) Parceiros Voluntários, com sede em Porto Alegre, caminha à autossuficiência financeira. Em 2011, 65% das receitas totais estimadas em R$ 3,75 milhões virão de projetos desenvolvidos pela própria entidade. Há quatro anos praticamente toda a renda dependia da doação dos mantenedores.
A reportagem é de Sérgio Ruck Bueno e publicada pelo jornal Valor, 31-10-2011.
Presidida por Maria Elena Pereira Johannpeter, mulher do empresário Jorge Gerdau Johannpeter, a Parceiros Voluntários tem duas frentes principais de atuação. Com 83 escritórios no Rio Grande do Sul, aproxima voluntários cadastrados e ONGs que necessitam desse tipo de serviço. Também presta assessoria para qualificar outras organizações do "terceiro setor".
A rede organizada pela Parceiros inclui 376,8 mil pessoas, 2 mil escolas e 2,5 mil empresas voluntárias. Na outra ponta estão 2,8 mil ONGs conveniadas, que prestam serviços a cerca de 1,5 milhão de pessoas. Fora do Rio Grande do Sul, a entidade já dá cursos de capacitações para organizações sociais do Rio de Janeiro, Amazonas, Mato Grosso e Bahia, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Conforme o diretor executivo Rogério Delanhesi, a Parceiros não cobra pelos serviços prestados às ONGs. Além dos repasses dos mantenedores, a entidade é remunerada pelo desenvolvimento de projetos em parceria com instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Sebrae, além da venda de produtos como publicações, softwares de gestão e metodologias de trabalho com públicos específicos homologadas pela Fundação Banco do Brasil.
Segundo Maria Elena, a autossuficiência faz parte do planejamento até 2018 para garantir "perenidade" às atividades da entidade, independentemente de doações.
Os fundadores e mantenedores da Parceiros são Gerdau, Braskem, Bradesco, Banrisul, Ipiranga, RGE, Puras (recentemente vendida à Sodexo), Walmart, Hospital Moinhos de Vento e as entidades Federasul, Fiergs e Fecomércio. Em 2009 eles responderam por 53% das receitas da entidade. Neste ano a fatia será de 35%.
"A qualificação das organizações sociais permite a melhor aplicação dos recursos", diz Maria Elena. Conforme Dalanhesi, até pequenos fornecedores de grandes empresas podem ser capacitados com as metodologias desenvolvidas pela Parceiros. O projeto mais recente, em parceria com o BID (que investiu US$ 800 mil), é a disseminação de princípios de transparência e prestação de contas nas ONGs. O trabalho começou em novembro de 2008 e a fase de testes encerrou nesta semana, depois do treinamento de 76 organizações e 148 dirigentes em 21 cidades do Rio Grande do Sul. "Agora queremos levar o projeto para todo o Brasil", diz Maria Elena.
A transparência estimula a captação de recursos para novos projetos e ajuda a combater a "generalização" provocada pelas recorrentes denúncias de ONGs envolvidas em desvio de recursos públicos, diz ele. "Mais de 90% das organizações sociais são éticas. As que cometem desvios geralmente são criadas apenas com essa finalidade", afirma Maria Elena.