Ousar lutar, ousar vencer
Não existem dúvidas de que as organizações sociais são agentes de mudanças da comunidade. Reunindo pessoas em torno de uma causa – fiscalização dos gastos públicos, erradicação da fome, da pobreza, da violência urbana ou doméstica, etc -, têm o grande desafio de fazer com que a comunidade passe a se interessar por elas. Não é nada fácil estimular as pessoas a construir um senso crítico que as faça dizer “não”.
Mobilização social não é apenas promover passeatas, manifestações públicas – é muito mais, é a capacidade de provocar e construir mudanças. É a capacidade de “contaminar” as pessoas com um propósito. É algo como atribuir a elas as suas escolhas, atribuir a elas a possibilidade de transformação da sociedade em que vivem. Fazê-las participar, efetivamente, da democracia. E democracia, como se sabe, não se faz sem o povo.
É preciso superar o arquétipo construído em função do interesse de uma minoria, de que falar “não”, indignar-se e adotar uma atitude de insatisfação, é maléfico. Ao contrário, é direito de todos e a lei ampara a iniciativa. Não é fácil porque envolve a transformação de uma mentalidade. Convocar as pessoas a um sentimento ético, provocar discursos e instigá-las a agir no sentido de alcançar um propósito comum, no sentido de alcançar mudanças, aceitar a responsabilidade pelas mudanças.
Somente com a participação dos diversos setores da sociedade, compromissados com uma capacidade de pensar e agir coletivamente, com respeito às diferenças, é que se poderá avançar na obtenção de mudanças que levem a uma ordem social mais democrática e participativa. Em suma, mobilizar socialmente as pessoas é formar cidadãos. E essa mobilização não pode ser temporária, oportunista. Ela deve ser construída a partir de um projeto que anime as pessoas a virem, a compartilharem, a sentirem-se necessárias nas transformações que querem, mas que não se vêem capacitadas a promover.
Construir uma sociedade mais justa não é o trabalho de um único. Essa empreitada exige de todos nós um compromisso positivo de participação coletiva. E a idéia de que isso é possível vem das experiências de outros povos, principalmente através de acontecimentos contemporâneos.
O papel de estimular o cidadão a participar de um projeto de mudança é também o papel das organizações sociais. Somente assim a máxima poderá ter foros de viabilidade: ousar lutar, ousar vencer.
Autor: Alberto Almeida Silva, advogado