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PF usou notas com tinta invisível para tentar prender Arruda

11 de dezembro de 2009 - 00:00

A Polícia Federal vai sugerir ao ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a quebra dos sigilos bancário e fiscal do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), e de todos os envolvidos na Operação Caixa de Pandora, com o objetivo de esmiuçar o esquema de arrecadação e distribuição de propinas que ficou conhecido como o mensalão do DEM. O objetivo é fechar o elo das investigações, mas a decisão depende do ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que preside o inquérito sobre o maior e mais escancarado escândalo ocorrido em Brasília nos últimos anos. Por conta dele, Arruda anunciou sua desfiliação do DEM ontem.

Desde que a operação foi deflagrada, no dia 27 de novembro, os policiais têm se debruçado na análise do material e documentos apreendidos nos 28 endereços devassados – 21 deles em Brasília – por ordem da Justiça. Neles foram encontrados discos rígidos de computadores e, entre outros documentos, R$ 700 mil cuja origem deverá ser rastreada numa segunda fase das operações.

Outra parte do dinheiro arrecadado e distribuído no mais espetacular esquema de corrupção gravado em vídeo e áudio, R$ 500 mil, foi marcado com tinta invisível, mas sumiu depois que o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, teria repassado a um assessor do governador. Esse episódio está nos bastidores da ação controlada que poderia ter coroado com chave de ouro a Operação Caixa de Pandora: a frustrada prisão em flagrante de José Roberto Arruda e dos principais operadores do esquema.

Policiais e procuradores monitoraram, com câmeras de vídeo e áudio, as atividades de Durval durante dois meses, na expectativa de que ele pudesse fazer chegar aos supostos cabeças parte da propina. Com o conhecimento do STJ, até sair de cena, Durval continuou administrando o dinheiro que chegava a seu gabinete pelas mãos de representantes de empresas que prestam serviços ou são fornecedoras do GDF.

Ex-delegado, Durval se gravou recebendo e distribuindo a dinheirama. No mesmo período em que passou a exercer o papel de delator, para se proteger, ele panfletou os bastidores da política brasiliense, distribuindo uma infinidade de cópias que chegariam aos veículos de comunicação. Alguns vídeos nem a polícia recebeu e outros, para o temor do governador e de seu grupo, ainda nem foram divulgados. O detalhe mais assombroso é que arrecadação e propina se transformaram numa escabrosa rotina no coração do governo distrital.

Os pacotes

Nos dias próximos ao desfecho da Caixa de Pandora, Durval levou aos investigadores pacotes do dinheiro que seria marcado na ação controlada autorizada pela Justiça. Segundo ele, R$ 400 mil seriam destinados a Arruda, mas o montante desapareceu depois de cair nas mãos de um assessor, tornando arriscada uma abordagem direta de prisão. MPF e PF ainda tentaram manter aceso a possibilidade de um flagrante, mas estava claro que a operação vazara. O STF então expediu as ordens de busca e apreensão e suspendeu o sigilo que havia decretado na Operação Caixa de Pandora.

O destino dos R$ 500 mil marcados ainda é um mistério e, provavelmente, a esta altura, já circula livremente no mercado, o que tornaria difícil a identificação de quem se beneficiou. Já em relação aos R$ 700 mil encontrados nas casas de deputados e ex-secretários do GDF, há um forte indício de que vai ser possível fechar o elo. Em dois alvos da operação, as notas apreendidas têm sequência de números da Casa da Moeda. Isso significa que o rastreamento vai identificar em que banco o dinheiro estava depositado e quem fez o saque.

O relatório da Polícia Federal será encaminhado ao ministro Fernando Gonçalves na próxima segunda-feira. Será um complemento à peça em que polícia e MPF pediram as ordens de busca e apreensão no último dia 27, mas um roteiro de como devem prosseguir as investigações caso o ministro acate as sugestões da PF.

A perícia no material apreendido fortalece os indícios contra Arruda, o vice-governador Paulo Octávio e pelo menos outros 15 personagens envolvidos no esquema. Como as investigações se originaram no Ministério Público Federal do DF e um mutirão de procuradores federais passou a acompanhar as ações da polícia – um deles para cada alvo das buscas –, a denúncia deverá ser apresentada rapidamente. Há indícios também de que a Caixa de Pandora possa ter conexão com outra investigação da PF, a Operação Castelo de Areia, que desmantelou um esquema de desvios de recursos federais e distribuição de propinas pela Construtora Camargo Correia. A ligação estaria no financiamento da campanha de Arruda.

Fonte: Jornal do Brasil

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