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Por fim a corrupção

13 de setembro de 2010 - 00:00

CLAUDIO WEBER ABRAMO

Por mais que os candidatos à Presidência da República evitem tocar no assunto da corrupção, a prisão, ontem, de diversos luminares do mundo político amapaense tornará impossível que continuem a manter as cabeças enterradas na areia. O "gancho" é incontornável. Os candidatos serão praticamente obrigados a abordar a questão.

Entre outros, foram presos o governador, o ex-governador, o prefeito de Macapá e o presidente do Tribunal de Contas estadual, proprietário, de acordo com o que se informa, de uma coleção de automóveis de luxo (aliás, como é que a Receita Federal não pegou esse sujeito muito antes?).

Será curioso observar as reações dos presidenciáveis, pois o assunto é enrolado. Vejamos: José Serra poderia sentir-se animado a apontar que Waldez Góes (PDT), o ex-governador envolvido, tem o apoio do presidente Lula. No entanto, sem nenhuma possibilidade de dúvida, Dilma Rousseff sublinhará que a quadrilha foi descoberta por investigações da Controladoria-Geral da União (órgão do Executivo federal) e da Polícia Federal (idem).

Como, além disso, nada "gruda" em Lula, é provável que o episódio todo resulte em benefício de Dilma. Outros candidatos falarão em "ética", "cultura da corrupção" e demais conceitos vago-genéricos.

Poderá o eventual leitor descartar tais elocuções por falta de conteúdo objetivo.

O que não verá mais uma vez serão diagnósticos e proposições de encaminhamento de medidas corretivas, necessariamente de longo prazo.

Não se ouvirá de nenhum candidato, mesmo os do "radical fringe", que a situação no Amapá é idêntica à de muitos outros Estados e da grande maioria dos municípios brasileiros. A saber, são economicamente dependentes de repasses da União (e, no caso dos municípios, também dos respectivos Estados), não produzem riqueza suficiente para sobreviver e, por isso, nesses lugares não há contraditório econômico, o que torna impossível o contraditório político, do qual, ao menos em tese, poderia resultar alguma fiscalização.

Isto é, resultaria, caso a Constituição do país não permitisse aos indivíduos que assumem a Presidência da República, os governos estaduais e as prefeituras municipais nomear um batalhão de pessoas para ocupar os chamados "cargos de confiança".

É com esses cargos que os chefes dos Executivos compram o apoio de maiorias nas Casas Legislativas. Disso resulta que todos são sócios. No caso de situações mais despudoradas, como essa do Amapá, do Distrito Federal e de tantos outros, são sócios na rapinagem.

Seria interessante testemunhar algum candidato propor na televisão o estabelecimento de condicionamentos econômicos para a autonomia de Estados e municípios. Mais interessante ainda seria vê-los declarar que trabalhariam pelo fim institucional do loteamento dos cargos entre partidos aliados.

É claro que um tal candidato cometeria hara-kiri instantâneo. Mas diria o que seria necessário que todos dissessem.

CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil

 

 

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