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Propina pode ter virado doação legal a partidos para lavar dinheiro, diz MP

20 de novembro de 2014 - 09:37

Parte do dinheiro cobrado por diretores da Petrobras para firmar contratos com empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato pode ter sido repassado a partidos políticos para financiar campanhas eleitorais, segundo aponta o Ministério Público Federal na denúncia que embasou a prisão de 24 pessoas na nova fase da operação.

No documento, o MPF afirma que as investigações da Polícia Federal apontam que as doações para campanhas são “mera estratégia de lavagem de capitais” e que o pagamento de propina teria sido utilizado pelas empreiteiras para “obtenção de vantagem indevida”.

 “Parte dessas doações pode representar pagamento de propina para agentes públicos para a obtenção de vantagem indevida, sendo as doações formais de campanha mera estratégia de lavagem de capitais”, destaca o Ministério Público na denúncia.

A instituição também cita que, mesmo após a deflagração da Operação Lava Jato, empresas investigadas “continuaram realizando doações milionárias a campanhas políticas”.

Em um trecho do documento, o MPF afirma que “a Camargo Corrêa ‘doou’ R$ 44 milhões às campanhas em 2014”, mas não enumera para quem ou para quais partidos os recursos teriam sido repassados.

“Este fato, por si só, demonstra que nem o parcial desmantelamento da organização criminosa foi suficiente para intimidar a ação da empresa de financiar a campanha de agentes políticos”, continua o MPF.

Procurada pelo G1, a assessoria da empreiteira deu a seguinte resposta: “A Construtora Camargo Corrêa repudia as acusações sem fundamento e esclarece que desde o inicio das investigações está à disposição das autoridades e tem prestado as informações solicitadas para o esclarecimento dos fatos.”

Trecho de denúncia em que o Ministério Público Federal aponta indícios de que propina foi utilizada em doações para campanhas eleitorais (Foto: Reprodução/Justiça Federal do Paraná)Trecho de denúncia em que o Ministério Público Federal aponta indícios de que propina foi utilizada em doações para campanhas eleitorais (Foto: Reprodução/Justiça Federal do Paraná)

Na denúncia, os procuradores da República detalharam depoimentos dos executivos Júlio Camargo e Augusto Ribeiro, da Toyo Setal, delatores do esquema, que afirmam ter pago, ao menos, R$ 154 milhões em propina a pessoas apontadas como operadores do PT e do PMDB dentro da estatal do petróleo. O suborno teria sido usado para garantir que grandes empreiteiras do país executassem obras bilionárias em, pelo menos, seis projetos da estatal do petróleo.

O Ministério Público também afirma que “mais recentemente”, o doleiro Alberto Youssef foi “flagrado” tratando de doações de campanha com o diretor-geral de Desenvolvimento Comercial da Queiroz Galvão, Othon Zanoide de Moraes Filho. As doações foram feitas ao Partido Progressista (PP), segundo o MPF.

Ao ser ouvido pelos delegados federais em Curitiba após ter sido preso, Zanoide afirmou que não sabia da existência de acordo entre as empresas do setor de infraestrutura para dividir entre si a execução de projetos da estatal do petróleo, com pagamento de propina a executivos da petroleira e partidos políticos. Ainda segundo o diretor-executivo, a Queiroz Galvão jamais pagou suborno a nenhum diretor da Petrobras.

Em outro trecho de seu depoimento, Zanoide foi apresentado a Alberto Youssef pelo ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010. De acordo com Zanoide, o doleiro era o responsável por intermediar e orientar sobre a forma como a empresa poderia realizar doações de campanha para o Partido Progressista (PP).

Zanoide também disse à Polícia Federal que conhece o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e que ele era responsável por orientar sobre doações ao partido. Vaccari Neto foi citado por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, delatores do suposto esquema de corrupção na Petrobras, como o operador de propina cobrada pelo PT nos contratos da estatal com outras empresas.

“Quando vem ano eleitoral, ano de campanha, todos os partidos políticos procuram as grandes empresas atrás de doações […] Fui procurado pelos arrecadadores de campanha, entre eles me recordo do João Vaccari [Neto], do PT. Fui procurado por diversos políticos”, disse Zanoide à PF no último domingo (15).

VALE ESTE - Arte Lava Jato 7ª fase (Foto: Infográfico elaborado em 15 de novembro de 2014)

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