R$ 6,5 bilhões: isto é o que a corrupção desvia todo mês
Há mais de um mês o Brasil acompanha o julgamento do maior escândalo político de corrupção no País: o mensalão, com 38 acusados. E no final de semana, a Revista Veja trouxe novas revelações sobre o esquema, apontando valores ainda maiores e o suposto envolvimento direto do ex-presidente Lula. No entanto, o esquema que ganhou repercussão internacional é apenas um, entre tantos outros casos da farra que se faz com o dinheiro público. Segundo estimativas do Banco Mundial, de 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), é desviado ilegalmente dos cofres públicos. Isso significa que, no Brasil, o impacto da roubalheira chega a R$ 80 bilhões por ano, ou R$ 6,5 bilhões todos os meses. Para se ter uma ideia, são quase oito vezes o custo total da extensão do metrô a Novo Hamburgo, avaliado em R$ 939,6 milhões, desviados todos os meses no País.
O dinheiro, por exemplo, ainda é o equivalente a uma vez e meia o PIB de Novo Hamburgo de 2008, último dado oficial disponível. Durante todo aquele ano, a soma das riquezas produzidas pelos hamburguenses chegou a R$ 4,4 bilhões. Outra tentativa de medir o tamanho do rombo causado por desvios foi realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). De 2000 a 2010, segundo estimativa da entidade, R$ 720 bilhões foram desviados.
O Brasil tem tentado formas de recuperar recursos desviados. Mês passado, em um acordo inédito, o ex-senador Luiz Estevão, condenado no escândalo de corrupção nas obras do Tribunal Regional do Trabalho, de São Paulo, terá que devolver quase R$ 500 milhões aos cofres públicos.
A coordenadora do curso de História das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), Dalva Reinheimer, lembra que o Brasil tem como herança um modelo de colonização exploratório. “Desde o início o País teve uma administração que concedeu benefícios somente para alguns em troca de fidelidade ao Estado”, comenta.
Outro fator que pode ter contribuído para a corrupção ser um problema crônico é a fusão entre o poder público e o privado, o chamado patrimonialismo. “Não há distinção entre um e outro”, avalia. Dalva destaca ainda o compadrio, que é praticado até hoje, em especial durante o período eleitoral. “São pessoas que têm vínculos de amizade construídos a base de favores. Se tornou tão comum que parece não haver nenhum problema ético nisso”, analisa. É aquela história de prometer o voto ao candidato se ele conseguir uma carga de brita, por exemplo.
O professor de Sociologia da Feevale e doutor em Ciências da Comunicação Norberto Kuhn Júnior ressalta que o aspecto histórico tem muita força no Brasil quando o assunto é corrupção. “Essa matriz de misturar o que é privado e público ainda se preserva, embora hoje a sociedade chame atenção para essa fronteira”, analisa.
Para o pesquisador, é comum tentar transferir a culpa para o outro, e a pessoa nunca se enxerga como corrupta. Ele explica que existe a corrupção das relações estabelecidas pela sociedade e é um aprendizado reconhecer até onde vai o arbítrio e aquilo que foi estabelecido por meio de convenções públicas. Quando questionado se o meio político é por si só corrupto, Kuhn destaca que há um espaço de tensão, mas as pessoas têm capacidade de escolher, embora sofram pressões de todos os lados.
O RANKING DOS MAIS CORRUPTOS
De acordo com o último ranking da ONG Transparência Internacional, em 2011 o Brasil ocupava a 73ª posição entre os 183 países avaliados no mundo. O índice é formado a partir da percepção das pessoas, que são entrevistadas por pesquisadores, se no seu país essa prática é ou não um problema. Numa escala de zero a dez, sendo que números mais altos representam os lugares menos corruptos, o Brasil tinha nota 3,8, para uma média mundial de 4,03 pontos.