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TCU esconde roteiros de viagens dos ministros

11 de março de 2013 - 11:51

O Tribunal de Contas da União (TCU) blindou seus ministros da divulgação de viagens feitas com verba pública. Decisões do plenário impedem o cidadão comum de saber para onde, e com qual justificativa, as autoridades emitiram passagens aéreas bancadas pelo contribuinte. A justificativa é que informar deslocamentos pregressos, feitos nos dois últimos anos, pode trazer “risco à segurança” dos integrantes da corte.

A negativa foi dada em processos nos quais o jornal O Estado de S.Paulo pediu, via Lei de Acesso à Informação, detalhamento das despesas com voos para “representação do cargo”. Isso significa, para cumprir compromissos supostamente institucionais.Por meio de uma resolução editada em 2009, os ministros do TCU asseguraram para si próprios, além de auditores, procuradores e subprocuradores do Ministério Público que atuam na corte, o direito aos bilhetes, concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a magistrados.

Segundo a norma de 2009, os integrantes do plenário teriam direito a gastar R$ 43,2 mil em voos com essa finalidade. O valor da verba foi atualizado e corrigido pelo IPCA, e, hoje, os ministros podem gastar até R$ 53 mil com viagens. Para demais autoridades, o montante, atualizado, pode ser de R$ 26,9 mil ou R$ 17,9 mil.

Os dados completos das viagens eram fornecidos pela Secretaria de Comunicação do tribunal até 2011, mas os ministros recuaram. Com a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, em maio do ano passado, passaram a negá-los.

Constrangimento

Os despachos com a negativa sobre informações das viagens dos ministros Benjamin Zymler e Raimundo Carreiro não explicam como a integridade física dos ministros pode ser ameaçada com a divulgação dos dados. Segundo fontes do tribunal, a negativa visa a evitar constrangimento, pois é comum as autoridades usarem a verba para viajar aos estados de origem. O TCU só abre agora a data e o valor dos voos, mas omite os destinos e as justificativas.

Na prática, o tribunal tem sido, nesse aspecto, mais hermético que os órgãos que fiscaliza. No Executivo e no Le­­gislativo federais, as mesmas informações estão disponíveis na internet, sem a necessidade de pedido por meio da Lei de Acesso à Informação.

Para Cláudio Weber Abra­­mo, diretor-executivo da organização Transparência Brasil, não há justificativa para omitir os dados. “É a posteriori. Como falar em risco meses depois de as viagens terem ocorrido? É uma justificativa cínica”, critica.

Conforme o TCU, uma decisão sobre a divulgação das viagens será tomada no futuro, quando o tribunal classificar as informações que, em seu entendimento, podem “se revestir de sigilo".

Outras despesas também são mantidas sob sigilo

A abertura de outras despesas tem sido negada pelo TCU. As agendas dos ministros não são divulgadas na internet, o que favorece a discreta atuação de lobistas nos gabinetes. Mesmo que não tenham tarja de sigilosos, os processos não podem ser consultados, exceto pelas partes. Só após o julgamento, os relatórios técnicos são apresentados ao público.

Para Cláudio Weber Abramo, a pressão da opinião pública é que poderia mudar a situação e favorecer a abertura dos dados: “(Os ministros) só reagem com a faca no pescoço”.

O Tribunal de Contas da União informou, em nota, que trabalha para, “o mais breve possível”, classificar as suas informações e, assim, divulgá-las “nos limites da lei”.

A corte não respondeu a nenhum dos oito questionamentos da reportagem, enviados na quinta-feira. “Com o advento da Lei de Acesso, ao mesmo tempo em que se passou a permitir a qualquer cidadão pleitear informações aos órgãos públicos, também exigiu-se que determinados dados fossem resguardados”, justificou o tribunal.

Na análise de recurso apresentado pelo O Estado de S. Paulo, a consultoria jurídica do TCU entendeu que a presidência do tribunal descumpriu a Lei de Acesso, pois não obedeceu aos prazos e tampouco apresentou os motivos da recusa.

Fonte: Gazeta do Povo

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