Desmemoriada: Parte da história de Marília é destruída junto com coreto da Praça Athos Fragata

O anúncio do projeto de reformulação da Praça Athos Fragata feito pela Prefeitura recentemente absteve-se de uma importante informação: a de que isso custaria destruir parte da própria história da cidade de Marília.

Isso porque, com o início do trabalho na manhã dessa sexta-feira, o belo coreto da referida praça foi sumariamente destruído por máquinas da Prefeitura, chegando ao final da manhã como apenas um amontoado de escombros, aparentemente, sem qualquer remorso.

Não à toa, o coreto da Praça Athos Fragata guarda(va) semelhanças com as obras do internacionalmente renomado arquiteto Oscar Niemayer, pois foi concebido por Miguel de Souza e Silva, que também se formou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, na mesma turma.

De acordo com informações prestadas pelo seu filho, o também arquiteto Miguel Sampaio de Souza e Silva, o criador do coreto destruído hoje nasceu em Mococa e morava em Lins em 1942 quando o prefeito de Marília na época o convidou para vir ao município para idealizar a Praça Maria Izabel.

Ele então gostou da cidade e aqui ficou, lecionando por 42 anos no Ginásio Estadual, que ficava onde hoje é a Biblioteca Municipal, e chegou a ser vice-prefeito de 1960 a 1963, tendo como prefeito Otávio Barreto Prado, o “Tatá”. Foi nesse período que o coreto da Praça Athos Fragata foi concebido e construído.

“Ele fez ainda projetos importantes na Avenida Rio Branco, em muitas residências, e até do Colégio Cristo Rei, projeto que foi originalmente concebido para o antigo Colégio São Bento”, relembrou seu filho.

O arquiteto viveu em Marília até sua morte e hoje, uma pequena Praça no Jardim Bandeirantes – mesmo não tendo exatamente um aspecto de praça, diante do seu estado de abandono – leva seu nome.

“Marília não preserva sua história”, desabafou o arquiteto Miguel Sampaio de Souza e Silva, que lembrou ainda a escassez de praças na cidade de Marília. Além disso, possivelmente com essa “remodelação” da Praça Athos Fragata, foi derrubado o último coreto existente na cidade. Outros dois coretos, os das praças Saturnino de Brito e São Miguel, já foram derrubados.

“Me sinto triste porque que nasci aqui, e uma cidade que não preserva sua história, não tem futuro. Não adianta falar que aqui é o sétimo melhor lugar para se viver se continuar descaracterizando tudo, destruindo seus marcos históricos, jogando lixo e esgoto no lugar errado. É uma tristeza muito grande a que sinto hoje”, sentenciou Miguel.