Quase dois meses depois de não divulgar novos dados sobre a transmissão de dengue em Marília, a Prefeitura retirou do seu site o link que levava às pessoas à tabela de atualização epidêmica. No entanto, novos casos continuaram a acontecer nesse período, embora em menor proporção. A contabilização pública de casos pela Internet parou com aproximadamente 15.500 casos e oito óbitos, com os demais em investigação. Só que isso foi há 60 dias e as novas transmissões não foram incluídas na tabela de dengue no site. Recentemente o link que levava a essa tabela ainda foi retirado da página, sem que a atualização fosse feita.
Conforme apurou o Jornal da Manhã junto à rede pública de Saúde, novos pacientes suspeitos continuaram a ser atendidos e as notificações foram feitas à Vigilância Epidemiológica Municipal. Ontem, a Secretaria Municipal da Saúde divulgou especificamente os casos deste mês de julho, como sendo cinco casos da doença até agora. A partir dos dados oficiais, a Infectologia ainda presume uma multiplicação de três a dez para uma noção real da transmissão. Isso porque a maioria das pessoas contaminadas não adoece, não busca ajuda médica ou tem sintomas leves que passam despercebidos. E ainda há as subnotificações pelos serviços de saúde.
No início de maio a própria Prefeitura chegou a prorrogar por mais 90 dias a vigência da situação de emergência pelo Município. A declaração, válida até agosto, reflete a mudança na transmissão da doença, que antigamente não acontecia durante o inverno. Na ocasião, a Divisão de Zoonoses da Secretaria Municipal da Saúde informou que, até 2010, Marília não tinha registros de dengue no segundo semestre do ano. Mas a partir de 2011, essa realidade mudou e em 2014, embora não tenha havido uma epidemia tão grave como a de 2015, a transmissão foi continuada o ano inteiro, o que serviu de alerta para não haver interrupção das ações de combate.
A Secretaria Municipal da Saúde informou ontem que as equipes da Divisão de Zoonoses estão promovendo atividades de bloqueio e controle de criadouros. No momento, as ações são realizadas nos bairros Costa e Silva e Jóquei Clube.
Mosquito tem resistido ao inverno
Essa continuidade de casos de dengue, mesmo durante e após o inverno, pode estar relacionada a vários fatores, como frios menos intensos, esconderijos aquecidos dentro das casas (onde o mosquito transmissor, Aedes aegypti, costuma ficar), resistência desse inseto transmissor ao frio e resistência comprovada a cada vez mais tipos de inseticidas. Ainda conforme informou a Divisão de Zoonoses, quando houve a prorrogação da situação de emergência pelo Município, somente em clima de frio rigoroso o mosquito não resiste. Ainda assim, o ovo permanece vivo e eclode quando a temperatura sobe.
Para agravar o quadro, o inverno neste ano em Marília tem se mostrado chuvoso e instável, com frequentes altas de temperaturas. O Aedes aegypti se reproduz em água parada com clima preferencialmente quente e transmite o vírus de uma pessoa a outra ao picar alguém doente e contraí-lo.
Óbitos eram 20. Prefeitura estagnou dados em 8
Os dados estagnados em oito óbitos, com os demais em investigação, também surpreendem porque há mais de dois meses os hospitais de Marília já tinham confirmado 20 mortes por dengue neste ano.