O condutor de um veículo que trafega pelas ruas de Marília tem a sensação de estar transitando sobre uma couraça de crocodilo, tal a densidade de crostas da camada asfáltica depois de tantos tapa-buracos realizados ao longo da nossa história.
Essa sensação de abandono relatada pelos moradores em redes sociais e até nos jornais locais, é fruto de anos de falta de planejamento e, principalmente, de rigor na exigência da QUALIDADE dos serviços prestados pelas empresas contratadas para garantir a trafegabilidade nas ruas.
Enquanto isso a EMDURB insiste em tentar instalar radares para reduzir acidentes na cidade. Mas a administração pública não faz a lição de casa. Sim, porque, contrata serviços de manutenção das vias públicas – seja com a CODEMAR ou outra empresa qualquer – mas não fiscaliza adequadamente a sua execução. Aliás, quem é o responsável pela fiscalização e o recebimento dos serviços?
Mas os pagamentos não deixam de ser feitos a cada fatura apresentada. E o resultado é um significativo número de acidentes que muitas vezes acabam não figurando nos bancos de dados estatísticos, porque o cidadão (infelizmente) não tem esperanças de obter a reparação pelos danos sofridos. Prefere se calar a gastar dinheiro para buscar os seus direitos na Justiça – muito cara e morosa.
Isso já poderia ter sido resolvido se Marília contasse com um Sistema de Controle Interno que funcionasse nos moldes determinados pelas Leis Complementares nºs 678/2013 e 679/2013. E aquela tão falada AUDITORIA GERAL, continua na promessa.
Em entrevista à MATRA, o vice-prefeito Antonio Augusto Ambrósio, o Tato, que está à frente da CODEMAR desde o início do mandato, disse que no máximo em dois meses vai concluir o “dossiê” da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Marília, que segundo ele mesmo, sempre foi um “cabide de emprego”, sem que houvesse a preocupação com o andamento real dos trabalhos executados.
“O primeiro ponto que eu encontrei na Codemar foi a dificuldade de informações. Pra você ter uma ideia nós temos aproximadamente cinco mil folhas de papel sulfite que você tem analisar lauda por lauda, porque você encontra irregularidades… E eu estou fazendo isso praticamente sozinho (…) Mas devo concluir a auditoria no máximo em 60 dias”.
Ele afirmou ainda ter encontrado a CODEMAR em situação desesperadora, oportunidade em que já acumulava uma dívida de aproximadamente R$ 31 milhões no início de 2017, sendo R$ 27 milhões só de impostos atrasados. E que hoje acumula um déficit de aproximadamente R$ 100 mil – embora acredite que até o final de 2018 ela já esteja trabalhando no azul em razão de alguns investimentos efetuados, principalmente de manutenção dos equipamentos. Com isso foi possível reduzir o desperdício de matéria-prima e ampliar de aproximadamente 500 m2 de asfalto por dia (média da CODEMAR em 2016, segundo Tato) para 700m2 por dia no ano passado, e nos meses de janeiro e fevereiro de 2018 para 1.200m2 de asfalto aplicado por dia (em média): “isso tá lá pra provar com as notas”, afirmou o vice-prefeito.
Embora reconhecendo que no início da gestão a escassez de materiais e equipamentos tivesse dificultado a busca pela qualidade dos serviços, ele garante que atualmente a CODEMAR tem pautado seus serviços de tapa-buracos e recapeamento, pela obediência dos padrões exigidos. Mas que ainda faltam galerias de águas pluviais para que o asfalto possa durar o tempo necessário – investimento de custo elevado e que leva tempo para ser realizado.
O que a MATRA cobra é a execução fiel do “memorial descritivo de conservação asfáltica”, um documento que contempla sete etapas para a realização do serviço: preparação; regularização, homogeneização e compactação do solo; reposição de solo; imprimação ligante; capa asfáltica; regularização mecânica de superfície e remoção dos rejeitos excedentes. É claro que esse assunto é extremamente técnico, por isso não vamos esmiuçá-lo neste momento. Mas de acordo com o Engenheiro Civil Ari Sarzedas, que também foi ouvido pela MATRA, basta ver, por exemplo, um reparo recente realizado na Rua Analina de Souza (zona norte), para verificar que o resultado passou longe do esperado: “eu tenho acompanhado, filmado, e o tapa-buraco de Marília, infelizmente, ele pula as etapas necessárias para que tenha a durabilidade da capa que está sendo executada, então é um serviço que está sendo superfaturado. Por exemplo, a capa (asfalto) teria que ter três centímetros e não tem nem meio centímetro em vários lugares”. Ainda segundo o engenheiro os remendos deveriam ficar no mesmo nível do asfalto, mas algumas ruas de Marília se tornaram uma colcha de retalhos com várias “lombadinhas” oriundas de reparos mal feitos e com durabilidade comprometida. As tais crostas referidas no início.
Segundo o Laboratorista de solo aposentado do DER, Darcy Bueno da Silva, que tem uma vasta experiência em fiscalização de construção de rodovias, se fosse feito corretamente um asfalto novo deveria durar até 15 anos e as ações de tapa-buracos eram para durar pelo menos cinco anos. Só que quando não se faz o serviço corretamente o problema sempre volta aí “só se faz enxugar gelo e desperdiçar dinheiro público”.
Ora! Os mariliense já penam para arcar com a carga tributária que lhes é imposta e não é justo que tenham que passar trepidando ou desviando de buracos, como se tivessem transitando sobre uma couraça de crocodilo. Daí o seu direito de exigir. Pois, Marília tem dono: VOCÊ e o dinheiro público também é SEU!