O procurador da República Deltan Dallagnol, um dos coordenadores da ‘Operação Lava Jato, esteve em Marília a convite da Unimar, e realizou a palestra “Lava Jato, Eleições e Combate à Corrupção”. O evento foi realizado no auditório da reitoria e recebeu mais de 600 pessoas. O evento teve apoio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Marília.
Juristas, advogados, promotores, alunos de direito, professores e a comunidade em geral assistiram a palestra que teve os convites esgotados quatro horas após a divulgação do evento. Em razão do grande número de interessados, a Unimar instalou telão e cadeiras no hall de entrada da reitoria para que todos pudessem acompanhar a palestra.
Em entrevista a imprensa, o procurador Deltan Dallagnol falou sobre a Operação Lava Jato e divulgou o lançamento de uma nova campanha nacional contra corrupção. “Houve uma primeira iniciativa contra a corrupção sistêmica que foram ‘As dez medidas contra corrupção’ e o que vimos foi que elas foram deformadas e enterradas no parlamento”, disse.
Deltan afirmou que apesar disso a sociedade se tornou consciente de que precisa de uma solução para o problema da corrupção e que são necessárias ações que vão além da Lava Jato e que são necessárias reformas adicionais.
O procurador falou da nova campanha encabeçada por instituições como Fundação Getúlio Vargas e Transparência Internacional, intitulada “As novas medidas contra corrupção” . O objetivo é incentivar que a população vote em candidatos de sua preferência ideológica, mas que atendam três princípios básicos: passado limpo, compromisso com a democracia e que apoie esse grande pacote anticorrupção. “Em 2018, sem dúvida, a principal arma do brasileiro contra corrupção será o voto”, disse Dallagnol.
Segundo o procurador, a Operação Lava Jato foi “um furacão que abalou a impunidade dos círculos de poder”. Ele afirmou que apesar do grande impacto que causou, a operação não é suficiente para diminuir os índices de impunidade no Brasil.”Não basta romper a impunidade. Você precisa mudar os incentivos no ambiente politico e empresarial que favoreçam a corrupção”.
O procurador afirma que é necessário que a população se envolva no apoio a mudanças no sistema político para que o atual modelo que privilegia corruptos não se perpetue. “Por isso precisamos de reformas sistêmicas. Esse pacote das Novas Medidas Contra Corrupção é composto por 70 propostas legislativas que atacam a corrupção em doze frentes diferentes. Existe o aumento da participação da sociedade na coisa pública, lei da ficha limpa estendida a todos os servidores públicos, gerar a desburocratização, aumentar penas da corrupção”.
Sobre ‘habeas corpus’ soltando políticos poderosos, Dallagnol disse que muitas vezes existe incoerência por parte do próprio ministro que emite essas decisões, pois em casos menos graves as pessoas foram mantidas presas. “Quando existe essa incoerência passa a existir na sociedade suspeitas e dúvidas sobre aquela decisão, o que mina a credibilidade do judiciário”, disse.
Em relação a recente decisão do STF de extinguir a condução coercitiva, o procurador não concorda. “O que nos chama mais atenção nessa decisão é que as conduções coercitivas não são feitas agora, elas são feitas desde 1941. E porque justamente agora quando ela atende pessoas poderosas que isso é revisto no âmbito do Supremo ? Na nossa perspectiva isso faz parte de uma reação contra as investigações e contra o rompimento da impunidade dos círculos de poder”.
Dallagnol afirmou que as tentativas de enfraquecer as ações da Operação Lava Jato sempre vão ocorrer e devem ser enfrentadas. “Em todo país do mundo que existe avanço contra corrupção existe uma reação. Essa reação vem por meio de propostas de lei para enfraquecer as instituições, ou mediante ataques a instrumentos de investigação como a colaboração premiadas ou ainda tentativa de esvaziar resultados das investigações. Inclusive tentativas de criar CPIs com objetivo de atacar as instituições e criar narrativas”.
Sobre mais um julgamento de recurso do ex-presidente Lula na próxima semana que pode coloca-lo em liberdade, Dallagnol não arriscou resultado, mas afirmou que a situação do ex-presidente é de condenado em segunda instância e com isso deve cumprir a pena.
Em relação à palestra na Unimar, o procurador disse que o objetivo foi trazer informações para gerar conscientização. Ele afirmou que a Lava Jato não é suficiente para combater a corrução e que a população deve se envolver para exigir medidas contra corrupção. Ele pede que a população participe acessando o site www.unidoscontracorrupcao.org.br e atue diretamente na campanha. “É uma campanha da sociedade e que estamos aderindo como procuradores e como cidadãos”, disse.
Fonte: Jornal da Manhã
*foto: Edio Júnior (JM)