A pesquisa CNT/MDA divulgada na terça-feira mostra que não foi apenas a presidente Dilma Rousseff que sofreu uma queda de popularidade após a onda de protestos que tomou conta do país durante o mês de junho. De forma geral, toda a classe política brasileira sofreu com os efeitos da revolta popular. A avaliação dos brasileiros sobre os governadores e prefeitos é apenas um pouco melhor do que a da presidente. Os governadores tiveram aprovação positiva (avaliação de desempenho ótimo ou bom) de 34,2% e os prefeitos de 34,1% da população. Dilma foi bem avaliada por 31,3% dos entrevistados, ante 54% no mês anterior.
A crise atingiu ainda mais duramente os parlamentares. Segundo o levantamento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) elaborado pelo Instituto MDA com cidadãos de todo o país, apenas 13,4% dos entrevistados avaliou como positiva a atuação de deputados e senadores de suas regiões. Quando se perguntou sobre o Congresso, as respostas mostraram um descontentamento ainda mais grave. Apenas um em cada dez brasileiros viram como positiva a reação do Legislativo às demandas populares manifestadas nas ruas.
“Historicamente, para a população, o Legislativo representa os pontos negativos da classe política. Costuma ser visto negativamente mesmo. O Executivo ainda tem uma obra, algum projeto para mostrar”, diz o cientista político Fabrício Tomio, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Respostas
No fim de junho, como forma de dar uma resposta para a sociedade, o Congresso investiu em uma espécie de agenda positiva: derrubou a PEC 37, que limitava o poder de investigação do Ministério Público; decretou a urgência do projeto que transformava corrupção em crime hediondo; e aprovou, em comissões, o fim do voto secreto dos deputados e senadores. A Câmara aprovou ainda a destinação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde. “Nem todas essas votações foram concluídas. E eu diria que nenhuma dessas decisões são suficientes para mudar a percepção que a opinião pública tem sobre o Congresso”, diz Tomio.
Ele lembra que logo na sequência da “agenda positiva” uma série de notícias negativas voltaram a atingir o Legislativo. “Tivemos o episódio das caronas nos aviões da FAB [Força Aérea Brasileira] para fins particulares. Aqui no Paraná, a condução do processo de votação para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas (TC) também pegou muito mal.”
A pesquisa mostra ainda que 84% dos brasileiros aprovaram as manifestações de rua. Para 49,7% dos entrevistados, os protestos tiveram como alvo os políticos. Para 21%, o alvo foi o sistema político. A principal reivindicação dos atos seria o fim da corrupção (40,3%) e a principal motivação foi a insatisfação com a corrupção (55%).
O levantamento CNT/MDA ouviu 2.002 pessoa de todas as regiões brasileiras entre os dias 7 e 10 de julho. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos.
O ex-presidente Lula aproveitou uma palestra na Universidade Federal do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), para defender os partidos políticos e mandar um recado aos manifestantes que ocuparam as ruas do país: “Não neguem a política”. Nos protestos do mês passado, houve um forte sentimento antipartidário.
Diante de uma plateia majoritariamente composta por estudantes, Lula falou em tom descontraído e chegou a usar palavrões. “Quando vocês estiverem p… da vida (…) – ‘Não gosto do Lula, não gosto da Dilma’ –, ainda assim não neguem a política”, disse Lula. “E muito menos neguem os partidos. Vocês podem fazer outros. Em vez de negar a política, entre você na política. É dentro de cada um de vocês que está o político perfeito que vocês querem.”
O ex-presidente por diversas vezes mencionou as manifestações – e foi aplaudido. Lula disse, por exemplo, que enquanto a Europa protesta para não perder direitos, o Brasil protesta para “conquistar mais”. Ele reafirmou ainda seu legado como presidente. Disse que os brasileiros em seu governo passaram a ter acesso a bens como carros e viagens. “É claro que vai ter problema de transporte. O sujeito compra o carro e não consegue andar dez metros (..). Em vez de achar ruim o protesto, [vamos dizer] viva o protesto. De protesto em protesto a gente vai consertando o telhado.”
Câncer
Questionado se havia possibilidade de ser candidato à Presidência em 2014 no lugar de Dilma Rousseff, Lula respondeu que não. No fim do encontro, ele também desmentiu rumores, espalhados nas redes sociais, de que o câncer de garganta que ele enfrentou tenha voltado e que estaria em metástase (espalhando-se para outros órgãos). O ex-presidente disse que jamais mentiria às pessoas se a situação de sua saúde de agravasse.