Ninguém deve se enganar, porém. Por maior que seja a determinação da presidente, uma democracia precisa que todas as instituições funcionem para desbaratar a corrupção, sobretudo a polícia, o judiciário – e a própria imprensa. O caso do Ministério do Turismo é, sob esse ponto de vista, exemplar. Mal Dilma tomara posse, ÉPOCA publicou, logo na primeira semana de janeiro, uma reportagem levantando diversas suspeitas que pesavam contra Frederico Costa, recém-nomeado secretário executivo da pasta e o principal alvo da operação da PF na semana passada.
A reportagem revelava que o currículo de Costa era incompatível com o cargo. Durante o governo Lula, quando secretário nacional do Desenvolvimento do Turismo, ele liberara R$ 13 milhões para a construção de uma estrada em Goiás cujo principal beneficiário era um empreendimento turístico de que sua família era sócia. A reportagem também contava que os bens de Costa estavam bloqueados desde fevereiro de 2010, por acusações de fraudes cometidas dez anos antes, e que ele era citado num relatório do Tribunal de Contas da União que apontava irregularidades em convênios do ministério com várias ONGs.
A importância da reportagem de ÉPOCA para as investigações posteriores da polícia pode ser atestada por um trecho do despacho em que o juiz federal Anselmo Gonçalves da Silva, do Amapá, dava a ordem para as prisões na semana passada: "Frederico Silva da Costa é citado em reportagem da revista ÉPOCA, sob o título "A ficha suja do executivo do Turismo", que o aponta como suspeito de desvio de recursos públicos". Numa democracia, o combate à corrupção tem de funcionar assim: a imprensa denuncia, a polícia investiga e a Justiça manda prender – e, depois, deve julgar e, se for o caso, condenar. Atingir um amadurecimento institucional capaz de tornar norma casos como esse é mais importante do que contar com a determinação política de quem ocupa cargos no Executivo para levar a cabo faxinas de ocasião.