25 MIL CÃES PODEM TER LEISHMANIOSE VISCERAL EM MARÍLIA
Marília vive uma epidemia entre os 50 mil cães que vivem na cidade e estima-se que até metade da população canina pode estar contaminada com a leishmaniose visceral – o que significa, infelizmente, que esses animais deveriam ser sacrificados. As informações são do coordenador de Zoonoses no município, Lupércio Garrido. Oficialmente, a Prefeitura investiga uma morte com suspeita da doença em 2016 e sete pessoas teriam sido diagnosticadas.
De acordo com Garrido, levantamentos feitos em bairros como Jânio Quadros revelam que 46% dos cães estão doentes. O principal sintoma que pode indicar a leishmaniose visceral nos caninos é a existência de feridas escuras em volta dos olhos. “O cachorro típico de Marília hoje é o cachorro ‘de óculos’”, fala o especialista.
Outros bairros onde se constatou epidemia em animais são o Santa Antonieta – que é a região de aparecimento da doença na cidade pela primeira vez Parque das Nações, Figueirinha, Novo Horizonte, Aeroporto, Altaneira e JK. “Se nada for feito vai ser necessária uma matança”, diz Garrido.
O problema, porém, pode ser muito maior do que o que vem sendo divulgado oficialmente. Parte da imprensa local noticiou recentemente que existe a possibilidade de ao menos quatro mortes suspeitas e muitas outras pessoas que estariam com a doença que encontra no homem o hospedeiro definitivo e nos cães um “reservatório”.
A informação seria de fontes de dentro da pasta da Saúde, mas a administração municipal nega esses números e diz que está tomando atitudes. O fato é que só em 2016 os casos oficializados pela administração municipal contabilizam o dobro das ocorrências oficias dos últimos cinco anos.
CONTROLE
O protozoário que provoca a doença é transmitido pelo mosquito-palha. A larva se alimenta de fezes de animais, lixo orgânico e materiais em decomposição. “As armadilhas que colocamos em galinheiros e chiqueiros em Marília ficam pretas, de tantos mosquitos”, comenta.
Segundo Garrido, a única forma de combater o avanço da doença é eliminar os hospedeiros reservatórios – os cães contaminados – e cuidar de problemas como o lixo, já que o mosquito se reproduz ali.
Ou seja, é preciso de um plano de manejo adequado e de educação por parte da população. No entanto, nos últimos meses Marília sofre com uma coleta de lixo precária e o acumulo de sacolas nas lixeiras por vários dias em diversos bairros.
Outro problema que tem agravado a proliferação da doença é falta de comunicação ao setor de Zoonoses por parte de clínicas. Apesar de ser obrigatório acionar o Poder Público a cada diagnóstico em animais, esse procedimento estaria sendo negligenciado.
De acordo com informações da Saúde, o primeiro caso de leishmaniose em humanos na cidade foi registrado em 2011. Depois, dois casos foram confirmados em 2014, um caso em 2015 e sete casos em 2016. O primeiro caso de transmissão para teria ocorrido em Marília no ano de 2011. O mosquito-palha foi identificado pela primeira vez em Marília no ano de 2009, conforme dados administração municipal.
Mas apesar da ameaça, ao que parece, a Prefeitura não possui uma estratégia clara de enfrentamento do risco epidemiológico. Qual seria o seu plano de contingências, para minimizar o risco? Afinal as coisas já estão acontecendo e o mosquito não vai esperar posse do novo prefeito.
SINTOMAS
A leishmaniose visceral, segundo a organização Médicos sem Fronteiras, é a forma mais grave da leishmaniose e a segunda doença parasitária que mais mata no mundo, atrás apenas da malária. Assim como a doença de Chagas e a doença do sono, o ela é uma das doenças tropicais negligenciadas mais perigosas, que, se não for tratada, chega a ser fatal em mais de 95% dos casos.
Inicialmente, os parasitas da leishmaniose causam feridas no local da picada do mosquito. A doença, quando progride, se manifesta de dois a oito meses após a infecção e se caracteriza por acessos irregulares de febre, perda de peso, fraqueza, aumento do baço e do fígado, e anemia. Aumento abdominal também é um sintoma bastante característico.
