Pesquisa de revista britânica mostra que os políticos brasileiros ganham 13 vezes mais que a média do cidadão. E, a julgar pela Assembleia Legislativa do Paraná, são pagos para se envolver em picuinhas sem sentido
“Você não nos representa”, um dos slogans que mais fizeram sucesso nas manifestações populares que há um mês encheram ruas e praças Brasil afora, além de um bordão que precisa ser repetido a toda hora, encerra uma das mais tristes verdades do cenário nacional: o povo é bem melhor que os políticos que o representam, ou, em outras palavras, o povo não merece os políticos que aí estão.
Dir-se-ia: mas foi o povo que os elegeu; portanto, como Mateus, que agora os embale! Não é bem assim. É certo que é com o nosso voto, supostamente livre, que pululam por toda parte políticos que estariam até melhor abrigados em presídios que nos gabinetes de luxo nos quais gozam de toda sorte de mordomias. Se assim é, é injusto, porém, afirmar que o povo deva carregar esta culpa.
É um círculo vicioso criado pelos próprios políticos que enreda o eleitorado na teia pegajosa de um sistema político-eleitoral que afasta os homens bons e honestos de pleitear mandatos eletivos; que permite a formação de partidos de fancaria e as mais estranhas coligações; que garante a eleição de quem tem menos votos que outros; e que estimula o abuso do poder econômico. Diante de tanto, não é de espantar a sofrível qualidade dos políticos que “nos representam” – eleitos pela via legal, mas não justa. Decididamente, não é o povo o responsável por isso tudo.
Apesar da falta de seriedade, da irresponsabilidade e do generalizado descompromisso com que grande parte dos eleitos exerce seus mandatos, nossos deputados são dos mais caros do mundo proporcionalmente ao PIB per capita do país. De uma lista de 29 países pesquisados pela revista The Economist, o Brasil ocupa a sexta posição: nossos deputados e senadores ganham 13 vezes mais que a renda média do brasileiro. Na Noruega e Espanha, esse número corresponde a menos de duas vezes a riqueza total do país dividida pelo número de habitantes. Podemos nos consolar com a Nigéria, onde o salário de um parlamentar equivale a 116 vezes o da média do país.
Diante disso, evidencia-se brutal desequilíbrio na relação custo/benefício: a produtividade e a qualidade dos nossos parlamentos são inversamente proporcionais aos ganhos e privilégios que lhes são assegurados, uma realidade que se estende para os outros dois poderes da República, o Executivo e o Judiciário.
O povo não é bobo. Percebeu que os benefícios a que teria direito por pagar tanto aos seus governantes são pífios. Falta-lhe segurança, educação de qualidade, serviços públicos de saúde, infraestrutura e logística… enfim, nada é proporcional à exorbitante carga tributária que recai sobre seus ombros. E por isso foi às ruas em atitude de cobrança, exigindo dos governantes respeito, responsabilidade, seriedade e honestidade – aliás, atributos intrínsecos à atividade pública.
Os políticos, no entanto, pouco se dão ao trabalho de escutar e interpretar a grita popular. A Assembleia Legislativa do Paraná, por exemplo, em meio a toda a barulheira, elege para o Tribunal de Contas o mais despreparado dos 40 candidatos. Afoito, o eleito já no dia seguinte renuncia ao mandato de deputado (e aos votos que o colocaram lá) e “transfere” para um deputado amigo as dependências do gabinete que ocupava. Foi o suficiente para que uma parlamentar protestasse contra a ocupação alheia de um lugar que pretendia que fosse seu. Ou seja: gente que deveria estar pensando exclusivamente em como contribuir para melhorar a vida de seus representados dá-se a esse tipo de briga infantil. Em outras palavras: é para assistir a esse espetáculo triste que estamos pagando tanto aos nossos parlamentares?
Os representados, de fato, não merecem os representantes que têm.
*Editorial do Jornal Gazeta do Povo – 16/07/2013