Carlos Rodrigues da Silva Filho*
O noticiário sobre pedofilia, atingindo religiosos da Igreja Católica traz tantos dados que chocam, que o Vaticano publicou editorial tentando justificar, sem sucesso, o motivo disso ter ficado latente por tanto tempo.
Acostumada a tratamento diferenciado, muitas vezes privilegiado, por parte da mídia, a hierarquia católica reagiu de forma hostil.
Dado que, a exemplo da Alemanha, desde 1995 ocorreram 210 mil denúncias de abusos a menores e delas, 300 ocorreram com padres católicos, ou seja, menos de 0,2%, será isso a maior ameaça à sobrevivência da igreja desde a Reforma, como julgam alguns?
Padres católicos cometem crimes sexuais? Fato. Mas esses crimes existem em proporção idêntica nas outras denominações religiosas (e não celibatárias). A única diferença é que, sendo o número de padres católicos muito superior ao número de pastores de outras igrejas, e estando os crimes de pedofilia disseminados pela população adulta, haverá um maior número de casos entre o clérigo católico.
Isso significa que os crimes revelados nos últimos anos podem ser desculpados ou justificados? Pelo contrário: esses crimes não têm desculpa nem justificativa.
Espera-se que a justiça cumpra o seu papel.
E que a igreja reconsidere a prática recorrente de camuflar decisões administrativas em dogmas divinos, considere o diálogo no lugar da repressão teológica e ainda reconsidere a doutrina da pretensa infalibilidade do pontífice. Aparentemente, os padres pedófilos são uma minoria, mas a igreja como instituição tem mesmo que rever sua forma de tratar seus fiéis como criancinhas.
A igreja terá que seguir o seu calvário. Os fiéis terão que confortar-se que esse pecado não é a última palavra, que existe um amor e um perdão capaz de superar todo o mal.
* Carlos Rodrigues da Silva Filho é médico e diretor da MATRA – artigo publicado no jornal Bom Dia Marília (06/07/2010)